segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


O Que é o Progresso



Que é o progresso?

O progresso é a aspiração pelo melhor, pelo belo, pelo bem; é a prova da existência em nós de um princípio superior, de alguma coisa grandiosa, quase divina, que nos encaminha para destinos mais altos, que nos lança sempre para frente, nos domínios do pensamento e da consciência.

É essa força íntima e maravilhosa que distingue o homem do animal, o sagrado rei do mundo, dominador da matéria.

Do ponto de vista social, o progresso é a caminhada para um estado de coisas cada vez mais de acordo com a justiça e a razão; é a aplicação, no seio das sociedades humanas, das leis, dos princípios suscetíveis de realizarem nelas a maior soma de ordem, de bem-estar, de liberdade, de fraternidade, de aproximá-las o mais possível do estado de perfeição.

Eis o que é o progresso!

Há homens que consideram o progresso como uma lei fatal, inevitável, como uma das leis cegas da natureza. O homem, dizem, progride em virtude da mesma força que faz uma semente, lançada em um terreno favorável, transformar-se em um carvalho. Eu protesto contra uma tal doutrina que é a negação da liberdade. Sim, sem dúvida, o homem é um ser progressista, perfectível por natureza.

Progredir é sua missão na Terra, é seu maior dever; é aí que está a fonte de sua grandeza, de seu poder. Porém, antes de tudo, o homem é livre, livre e responsável por seus atos.

O homem, fisicamente, materialmente, é como uma planta que se desenvolve naturalmente, em virtude das leis universais; porém, intelectualmente e moralmente, ele se cria por si mesmo.

É por uma longa série de esforços, de trabalhos e de buscas que ele se torna no que é; é por suas relações com seus semelhantes que ele cria a ordem social completa.

Sua elevação é, portanto, sua própria obra e eis por que ele se pode mostrar orgulhoso por isso.

Aliás, se o progresso fosse fatal, seria contínuo e nada poderia entravá-lo, criar-lhe obstáculo. Não vemos, na História do mundo, períodos de decadência e de abatimento se sucederem a períodos de progresso e de civilização? Não é por uma caminhada contínua que a humanidade se fortifica, se esclarece e cresce. Não!... É através de vicissitudes sem número, de alternativas de triunfo e de sofrimento, é sobre uma estrada desigual onde as quedas são tão numerosas quanto as ascensões, na qual encontramos, a cada passo, as marcas de seus pés sangrentos.

O progresso é como o oceano, tem seus fluxos e seus refluxos, suas marés altas e baixas, as quais abrangem períodos às vezes seculares.

Suas ondas incontáveis assaltam as rochas e os escolhos, reviram-nos e depois se estendem sobre imensas superfícies onde jamais haviam penetrado; logo recuam, afastam-se e, em seu movimento oposto, deixam descobertas várias praias. Todavia retornam um dia, mais formidáveis, invadindo novos espaços e conquistando novos terrenos.

A História nos faz lembrar essas grandes fases do progresso. As marés altas são a Grécia e Roma, a Reforma, a Revolução. Os refluxos terríveis e as marés baixas são a invasão dos bárbaros, a tenebrosa Idade Média, os Impérios cheios de sombra e de corrupção, que precederam a aurora de 1789.

Na hora em que estamos, uma nova ascensão se prepara para nosso povo; a onda sobe, agiganta-se a olhos vistos.

Que possa ela elevar-se bem alto e varrer diante de si todos os fantasmas do passado: preconceitos, ignorância e fanatismo, que ainda se opõem à sua passagem.


Leon Denis


Da obra “O Progresso”, com base na Conferência feita em Tours, na sala do Cirque em 29 de fevereiro de 1880 e em Orléans, na Sala do Instituto em 4 de abril de 1880.

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