terça-feira, 31 de agosto de 2010

Imagem e Mensagem : Palestra “O Céu e o Inferno” – Nazareno Feitosa

No encerramento de nossas homenagens aos 145 anos do livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, selecionamos uma palestra sobre o tema realizada pelo expositor espírita cearense, Nazareno Feitosa, no ano de 2006. Assuntos como: a vida futura, reencarnação, mortes violentas, desencarnes coletivos e o que é necessário para alcançarmos uma vida mais feliz no mundo espiritual são aqui magistralmente expostos pelo palestrante, sob a ótica da doutrina espírita.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Expiações Terrestres


Szymel Slizgol


Este não passou de um pobre israelita de Vilna, falecido em maio de 1865. Durante 30 anos mendigou com uma salva nas mãos. Por toda a cidade era bem conhecida aquela voz que dizia: “Lembrai-vos dos pobres, das viúvas e dos órfãos!” Por essa longa peregrinação Slizgol havia juntado 90.000 rublos, não guardando, porém, para si um só copeque. Aliviava e curava os enfermos; pagava o ensino de crianças pobres; distribuía aos necessitados a comida que lhe davam.

À noite, destinava-a ele ao preparo do rapé, que vendia a fim de prover às suas necessidades, e o que lhe sobrava era dos pobres. Foi só no mundo, e no entanto o seu enterro teve o acompanhamento de grande parte da população de Vilna, cujos armazéns cerraram as portas.

Sociedade de Paris, 15 de junho de 1865

Evocação: Excessivamente feliz, chegado, enfim, à plenitude do que mais ambicionava e bem caro paguei, aqui estou, entre vós, desde o cair da noite. Agradecido, pelo interesse que vos desperta o Espírito do pobre mendigo, que, com satisfação, vai procurar responder às vossas perguntas.

— P. Uma carta de Vilna nos deu conhecimento das particularidades mais notáveis da vossa existência, e da simpatia que tais particularidades nos inspiram nasceu o desejo de nos comunicar convosco. Agradecemos a vossa presença, e, uma vez que quereis responder-nos, principiaremos por vos assegurar que mui felizes seremos se, para nossa orientação, pudermos conhecer a vossa posição espiritual, bem como as causas que determinaram o gênero de vida que tivestes na última encarnação.

— R. Em primeiro lugar, concedei ao meu Espírito, cônscio da sua verdadeira posição, o favor de vos transmitir a sua opinião, com respeito a um pensamento que vos ocorreu quanto à minha personalidade. E reclamo previamente os vossos conselhos, para o caso de ser falsa essa minha opinião.

Parece-vos singular que as manifestações públicas tomassem tanto vulto, para homenagear a memória do homem insignificante que soube por seu Espírito caridoso atrair tal simpatia. Não me refiro a vós, caro mestre, nem a ti, prezado médium, nem a vós outros verdadeiros e sinceros espíritas; falo, sim, para as pessoas indiferentes à crença, pois, nisso, nada houve de extraordinário. A pressão moral exercida pela prática do bem, sobre a Humanidade, é tal que, por mais materializada que esta seja, inclina-se sempre, venera o bem, a despeito da sua tendência para o mal.

Agora, as perguntas que, da vossa parte, não são ditadas pela curiosidade, mas simplesmente formuladas no intuito de ampliar o ensino. Visto que disponho de liberdade, vou, portanto, dizer-vos, o mais laconicamente possível, quais as causas determinantes da minha última existência.

Faz muitos séculos, vivia eu com o título de rei, ou, pelo menos, de príncipe soberano. Dentro da esfera do meu poder relativamente limitado, em confronto com os atuais Estados, era eu, no entanto, absoluto senhor dos meus vassalos, como dos seus destinos, e governava-os tiranicamente, ou antes — digamos o próprio termo — como algoz.

Dotado de caráter impetuoso, violento, além de avaro e sensual, podeis avaliar qual deveria ter sido a sorte dos pobres seres sujeitos ao meu domínio. Além de abusar do poder para oprimir o fraco, eu subordinava empregos, trabalhos e dores ao serviço das próprias paixões. Assim, impunha uma dízima ao produto da mendicidade, e ninguém poderia acumular sem que eu antecipadamente lhe tomasse uma cota avultada, dessas sobras que a piedade humana deixava resvalar para as sacolas da miséria. E mais ainda:

— a fim de que não decrescesse o número de mendigos entre os meus vassalos, proibia aos infelizes darem aos amigos, parentes e fâmulos necessitados a parte insignificante do que ainda lhes restava. Em uma palavra, fui tudo quanto se pode imaginar de mais cruel, em relação ao sofrimento e à miséria alheia. No meio de sofrimentos horrorosos, acabei por perder isso a que chamais — vida, tanto que minha morte era apontada como exemplo aterrador a quantos como eu, posto que em menor escala, tinham o mesmo modo de pensar.

Como Espírito, permaneci na erraticidade durante três e meio séculos, e, quando ao fim desse tempo compreendi que a razão de ser da reencarnação era inteiramente outra que não a seguida por meus grosseiros sentidos, obtive à força de preces, de resignação e de pesares a permissão de suportar materialmente os mesmos sofrimentos que infligira, e mais profundamente sensíveis que os por mim ocasionados. Obtida a permissão, Deus concedeu que por meu livre-arbítrio aumentasse os sofrimentos físicos e morais.

Graças à assistência dos bons Espíritos, persisti na prática do bem, e sou-lhes agradecido por me terem impedido de sucumbir sob o fardo que tomara. Finalmente, preenchi uma existência de abnegação e caridade, que por si resgatou as faltas de outra, cruel e injusta. Nascido de pais pobres e cedo orfanado, aprendi a ganhar o pão numa idade em que muitos consideram incapaz o raciocínio.

Vivi sozinho, sem amor, sem afeições, e desde o princípio suportei as brutalidades que para com outros havia exercido. Dizem que as somas por mim esmoladas foram todas destinadas ao alívio dos meus semelhantes: — É um fato inconcusso, ao qual, sem orgulho nem ênfase, devo acrescentar que — muitíssimas vezes, com sacrifício de privações relativamente imperiosas, aumentava o benefício que me permitiam fazer à caridade pública. Desencarnei calmamente, confiando no valor da minha reparação, e sou premiado muito mais do que poderiam ter cogitado as minhas secretas aspirações.

Hoje sou feliz, felicíssimo, podendo afirmar-vos que todos quantos se elevam serão humilhados, como elevados serão todos quantos se humilharem.

— P. Tende a bondade de dizer-nos em que consistiu a vossa expiação no mundo espiritual, e quanto tempo durou, a contar da vossa morte até ao momento da atenuação por efeito do arrependimento e das boas resoluções. Dizei-nos também o que foi que provocou a mudança das vossas idéias, no estado espiritual.

— R. Essa pergunta desperta-me muitas recordações dolorosas! Quanto sofri eu... Mas não, que me não lamento: — apenas recordo!... Quereis saber a natureza da minha expiação? Pois ei-la na sua terrível hediondez:

Carrasco que fui de todos os bons sentimentos, fiquei por muito, por longo tempo preso pelo perispírito ao corpo em decomposição. Até que esta se completasse, vi-me corroído pelos vermes — o que muito me torturava! e quando me vi liberto das peias que me prendiam ao instrumento do suplício, mais cruel suplício me esperava!... Depois do sofrimento físico, o sofrimento moral muito mais longo. Fui colocado em presença de todas as minhas vítimas. Periodicamente, constrangido por uma força superior, era eu levado a rever o quadro vivo dos meus crimes. E via física e moralmente todas as dores que a outrem fizera sofrer! Ah! meus amigos, que terrível é a visão constante daqueles a quem fizemos mal! Entre vós, tendes apenas um fraco exemplo no confronto do acusado com a sua vítima. Aí tendes, em resumo, o que sofri durante três e meio séculos, até que Deus, compadecido da minha dor e tocado pelo meu arrependimento, solicitado pelos que me assistiam, permitisse a vida de expiação que conheceis.

— P. Algum motivo particular vos induziu à escolha da última existência, subordinada à religião israelita?

— R. Não escolhi por mim só, mas ouvi o conselho dos meus guias. A religião de Israel era uma pequena humilhação a mais na minha prova, visto como em certos países a maioria dos encarnados menosprezam os judeus, e principalmente os judeus mendicantes.

— P. Na Terra, com que idade começastes a vossa obra de expiação? Como vos ocorreu o pensamento de vos desobrigar das resoluções previamente tomadas? Ao exercerdes tão abnegadamente a caridade, teríeis a intuição das causas que a isso vos predispunham?

— R. Meus pais eram pobres, porém inteligentes e avaros. Moço ainda, eu fui privado da afeição e carinhos de minha mãe. A perda desta me causou tanto maior e fundo pesar, quanto meu pai, dominado pela avidez de ganhos, me abandonava por completo. Quanto aos meus irmãos, todos mais velhos do que eu, não pareciam aperceber-se das minhas mágoas. Foi um outro judeu quem, movido por sentimento mais egoístico do que caritativo, me recolheu em sua casa e me ensinou a trabalhar. O que isso lhe custara era largamente compensado pelo meu trabalho, aliás excedente muitas vezes às minhas forças. Mais tarde, liberto desse jugo, trabalhei por minha conta; mas em toda parte, no trabalho como no repouso, perseguia-me a saudade de minha mãe, e, à medida que avançava em anos, a lembrança desse ser mais fundamente se me gravara na memória, lamentando em demasia a perda do seu amor e do seu zelo. Não tardou fosse eu o único dos meus, pois a morte em breve, dentro de meses, ceifou-me toda a família.

Então, principiou a manifestar-se-me o modo pelo qual havia de passar o resto da vida. Dois dos meus irmãos deixaram órfãos, e eu, comovido pela recordação do que como órfão sofrera, quis preservar os pobrezinhos de uma juventude igual à minha. Não produzindo o meu trabalho o suficiente para sustentá-los a todos, comecei a pedir esmola, não para mim, mas para outros. A Deus não aprazia visse eu o resultado, a consolação dos meus esforços, e assim foi que também os pobrezinhos me deixaram para sempre.

Eu bem via o que lhes faltava — era a mãe. Resolvi, pois, pedir para as viúvas infelizes que, sem poderem trabalhar para si e seus filhinhos, se impunham privações fatais, que acabavam por matá-las, legando ao mundo pobres órfãos abandonados e votados aos tormentos que eu mesmo suportara. A esse tempo contava eu 30 anos, e nessa idade, saudável e vigoroso, viram-me pedir para a viúva e para o órfão.

Penosos me foram os primeiros passos, a suportar mais de um epíteto deprimente; quando, porém, se certificaram de que eu realmente distribuía pelos pobres o que recebia; quando souberam que a essa distribuição ainda ajuntava as sobras do meu trabalho; então, adquiri certo conceito que não deixava de me ser grato.

Durante os 60 e alguns anos dessa peregrinação terrena, nunca deixei de atender à tarefa que me impusera. Também jamais a consciência me fez sentir que causas anteriores à existência fossem o móbil do meu proceder. Um dia somente, e antes de começar a pedir, ouvi estas palavras:

“Não façais a outrem o que não quiserdes que vos façam.” Surpreendido pelos princípios gerais de moralidade contidos nessas poucas palavras, muitas vezes parecia-me ouvi-las acrescidas com estas outras: — “Mas fazei, ao contrário, o que quiserdes que vos façam.” Tendo por auxiliares a lembrança de minha mãe e dos meus próprios sofrimentos, continuei a trilhar uma senda que a minha consciência dizia ser boa.

Vou terminar esta longa comunicação, dizendo:

— Obrigado!

Imperfeito ainda, sei, contudo, que o mal só acarreta o mal, e de novo, como já o fiz, dedicar-me-ei ao bem para alcançar a felicidade.


Szymel Slizgol.


"O Céu e o Inferno", Allan Kardec, cap.VIII (segunda parte).

domingo, 29 de agosto de 2010

Música Espírita: Cristo Esclarece – Cantores do Caminho

A canção “Cristo Esclarece”, do grupo espírita Cantores do Caminho é o nosso destaque em “Música Espírita” desse mês. A letra e o vídeo fazem uma homenagem ao Mestre, tendo por base a Luz dos seus ensinamentos como modelo e guia em nossa caminhada evolutiva.


sábado, 28 de agosto de 2010

Espíritos Endurecidos


Xumène

(Bordéus, 1862)



Sob este nome, um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium, habituado a este gênero de manifestações, pois sua missão parece ser a de assistir os Espíritos inferiores que o seu guia espiritual lhe conduz, no duplo propósito da sua própria instrução e do progresso deles.

— P. Quem sois? Este nome é de homem ou de mulher?

— R. De homem, e tão infeliz quanto possível. Sofro todos os tormentos do inferno.

— P. Mas se o inferno não existe, como podeis sofrer-lhe as torturas?

— R. Pergunta inútil.

— P. Compreendo, mas outros precisam de explicações...

— R. Isso pouco me incomoda.

— P. O egoísmo não será uma das causas do vosso sofrimento?

— R. Pode ser.

— P. Se quiserdes ser aliviado, começai repudiando as más tendências...

— R. Não te incomodes com o que não é da tua conta; principia orando por mim, como praticas com os outros, e depois veremos.

— P. A não me auxiliardes com o vosso arrependimento, a prece pouco valor poderá ter.

— R. Mas falando, em vez de orares, menos ainda me adiantarás.

— P. Então desejais adiantar-vos?

— R. Talvez... não sei. Vejamos o essencial, isto é, se a prece alivia os sofrimentos.

— P. Unamos então os nossos pensamentos com a firme vontade de obter o vosso alívio.

— R. Vá lá.

— P. (Depois da prece.) Estais satisfeito?

— R. Não como fora para desejar.

— P. Mas o remédio, aplicado pela primeira vez, não pode curar imediatamente um mal antigo...

— R. É possível...

— P. Quereis voltar?

— R. Se me chamares...

O guia da médium. — Filha, terás muito trabalho com este Espírito endurecido, mas o maior mérito não advém de salvar os não perdidos. Coragem, perseverança, e triunfarás afinal. Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir-se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as idéias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada.

Isto que te digo pode aplicar-se também aos encarnados e tu deves compreender a razão por que o Espiritismo não faz imediatamente homens perfeitos, mesmo entre os adeptos mais crentes. A crença é o primeiro passo; vindo em seguida a fé e a transformação a seu turno; mas, além disso, força é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual.

Entre os Espíritos endurecidos, não há só perversos e maus. Grande é o número dos que, sem fazer o mal, estacionam por orgulho, indiferença ou apatia. Estes, nem por isso, são menos infelizes, pois tanto mais os aflige a inércia quanto mais se vêem privados das mundanas compensações.

Intolerável, por certo, se lhes torna a perspectiva do infinito, porém eles não têm nem a força nem a vontade para romper com essa situação. Referimo-nos a esses indivíduos que levam uma existência ociosa, inútil a si como ao próximo, acabando muita vez no suicídio, sem motivos sérios, por aborrecimento da vida.

Em regra, tais Espíritos são menos passíveis de imediata regeneração, do que os positivamente maus, visto como estes ao menos dispõem de energia, e, uma vez doutrinados, votam-se ao bem com o mesmo ardor que lhes inspirava o mal.

Aos outros, muitas encarnações se fazem precisas para que progridam, e isto pouco a pouco, domados pelo tédio, procurando, para se distraírem, qualquer ocupação que mais tarde venha transformar-se em necessidade.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap.VII (segunda parte).

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Boas Notícias

Seleção de notícias positivas divulgadas em sites durante esse mês:


Ciência


Córneas sintéticas oferecem esperanças a deficientes visuais

Córneas sintetizadas em um laboratório melhoraram bastante a visão de dez pacientes suecos que sofriam de deficiências visuais graves. Feitos com colágeno sintético, os implantes podem, no futuro, eliminar as filas de espera por doações de córneas humanas. Eles permitem uma recuperação mais rápida do paciente e não provocam rejeição - problema comum em implantes convencionais.

Os pesquisadores da universidade sueca Linkoping, responsáveis pelo trabalho, enfatizam que este foi um estudo pequeno, com apenas dez participantes, mas dizem estar otimistas quanto ao possível sucesso do tratamento após testes em grande escala. A pesquisa foi publicada na revista científica Science Translational Medicine.

A córnea é uma camada de tecido transparente que cobre a pupila, a íris e a frente do olho. Ela é composta de colágeno. Danos a essa membrana são a segunda maior causa de cegueira no mundo, afetando quase dez milhões de pessoas. Os implantes são feitos com leveduras e sequências de DNA humano. Uma vez implantados, eles promovem a regeneração dos nervos e células no olho do paciente.

Estudo

Tecido danificado foi retirado das córneas de dez pacientes e substituído por implantes. O grupo foi monitorado durante dois anos após as cirurgias. Dos dez, seis foram capazes de ver quatro vezes mais longe do que antes da operação.

Todos tiveram melhorias em sua visão, mas alguns precisaram do auxílio adicional de lentes de contato. Uma das autoras do estudo, a professora May Griffith, da universidade de Linkoping, disse à BBC que a equipe ficou surpresa com os resultados.

"Nosso objetivo era apenas testar a segurança dessas córneas em humanos, então a melhoria na visão foi um verdadeiro bônus".

Ela explicou que o sucesso dos implantes está em sua habilidade de permitir que os tecidos do olho se regenerem.

"Os próprios nervos e células do paciente crescem de novo dentro dessa estrutura pré-fabricada, recriando uma córnea que se assemelha ao tecido saudável normal do olho", disse Griffith. "Então (a córnea sintética) está essencialmente estimulando a regeneração".

A melhoria na visão dos pacientes foi igual à esperada caso tivessem recebido doações de córneas humanas, mas, em alguns aspectos, a recuperação do olho foi melhor em comparação com os implantes convencionais.

"A recuperação dos nervos foi mais rápida em todos os pacientes do que teria sido se tivessem recebido enxertos humanos". O grupo não apresentou rejeição e não precisou tomar drogas imunossupressoras - como acontece em pacientes que recebem córneas humanas.

A córnea retira oxigênio das lágrimas. Os implantes sintéticos foram capazes de produzir lágrimas normais e tornaram-se sensíveis ao toque.

Córneas protéticas, feitas de plástico, já foram usadas em pacientes que tiveram complicações após receber enxertos de córneas humanas.

Elas são difíceis de implantar e podem causar infecções, glaucoma e descolamento da retina.


Fonte: Terra Notícias, 26/08/2010


Vitamina D pode proteger contra câncer, diabete e artrite

A vitamina D pode proteger o corpo humano contra uma série de doenças ligadas a condições genéticas, incluindo câncer, diabete, artrite e esclerose múltipla, segundo uma pesquisa britânica recém-publicada. Os cientistas mapearam os pontos de interação entre a vitamina D e o DNA e identificaram mais de 200 genes influenciados pela substância.

A vitamina D é produzida naturalmente pelo corpo pela exposição ao sol, mas a substância está presente também em peixes e crustáceos e, em menor quantidade, em ovos e leite. Mas acredita-se que até um bilhão de pessoas em todo o mundo sofram de deficiência de vitamina D pela pouca exposição ao sol.

Já se sabia que a falta de vitamina D podia levar ao raquitismo e havia várias sugestões de ligações com doenças, mas a nova pesquisa, publicada pela revista especializada Genome Research, é a primeira que traz evidências diretas de que a substância controla uma rede de genes ligados com doenças.

Receptores

Os pesquisadores, da Universidade de Oxford, usaram uma nova tecnologia para o sequenciamento do DNA para criar um mapa de receptores de vitamina D ao longo do genoma humano. O receptor de vitamina D é uma proteína ativada pela substância, que se liga ao DNA e assim determina quais proteínas são produzidas pelo corpo a partir do código genético.

Os pesquisadores identificaram 2.776 pontos de ligação com receptores de vitamina D ao longo do genoma, concentrados principalmente perto de alguns genes ligados a condições como esclerose múltipla, doença de Crohn, lupus, artrite reumatoide e alguns tipos de câncer como leucemia linfática crônica e câncer colo-retal.

Eles também mostraram que a vitamina D tinha um efeito significativo sobre a atividade de 229 genes incluindo o IRF8, associado com a esclerose. "Nossa pesquisa mostra de forma dramática a ampla influência que a vitamina D exerce sobre nossa saúde", afirma um dos coordenadores da pesquisa, Andreas Heger.

Seleção


Os autores afirmam que o consumo de suplementos de vitamina D durante a gravidez e nos primeiros anos de vida podem ter um efeito benéfico sobre a saúde da criança em sua vida no futuro. Outras pesquisas anteriores já haviam indicado que a pele e os cabelos mais claros entre as populações de partes da Terra com menos incidência de raios solares teriam sido uma consequência da evolução para melhorar a produção de vitamina D.

Segundo os pesquisadores da Universidade de Oxford, isso poderia explicar a razão de seu estudo ter identificado um número significativo de receptores de vitamina D em regiões do genoma com mutações genéticas mais comumente encontradas em pessoas de ascendência europeia ou asiática.

A deficiência de vitamina D em mulheres grávidas pode provocar contrações pélvicas, aumentando o risco de morte da mãe e do feto. Segundo os pesquisadores, essa situação pode ter levado ao fim de linhagens maternais de pessoas incapazes de aumentar sua disponibilidade de vitamina D.

"A situação em relação à vitamina D é potencialmente uma das pressões seletivas mais poderosas no genoma em tempos recentes", afirma outro coordenador da pesquisa, George Ebers. "Nosso estudo parece apoiar essa interpretação e pode ser que não tivemos tempo suficiente para fazer todas as adaptações de que precisávamos para suportar nossas circunstâncias", disse.

Fonte: Terra Notícias, 24/08/2010.


Meio Ambiente


China fecha fábricas poluidoras antes de conferência do clima

A China, segunda economia mundial e primeiro emissor global de gases de efeito estufa, determinou o fechamento de milhares de fábricas poluidoras, antes de sediar, em outubro próximo, uma conferência preparatória da Cúpula do Clima de Cancún.

As autoridades chinesas querem mostrar-se responsáveis, embora continuem argumentando que o gigante asiático emite menos gases estufa por habitante do que os países desenvolvidos.

O fechamento brutal de fábricas é "um gesto para mostrar que o país faz tudo o possível para alcançar seus objetivos", disse à Andy Xie, economista independente radicado em Xangai.

"Os dirigentes precisam salvar a pele", acrescentou Andy Xie. Nas últimas semanas, o governo determinou o fechamento, até setembro, de 2.087 siderúrgicas, cimenteiras, fábricas de alumínio e vidro, sob pena de ter interrompido o fornecimento de energia elétrica e seus proprietários fiquem privados do acesso ao crédito.

As autoridades já aplicaram sanções na província de Anhui (leste, perto de Xangai), onde mais de 500 fábricas que não reduziram suas emissões o suficiente viram interrompido por um mês o abastecimento de eletricidade, noticiou a imprensa.

Uma dúzia recebeu ordem para fechar definitivamente, enquanto outras deverão reduzir sua capacidade de produção, destacou a mídia chinesa. As províncias vizinhas também tomaram medidas com o mesmo objetivo.

Em Nanquin, capital de Jiangsu, mil empresas viram o governo impôr um teto para seu consumo elétrico e um número não determinado de usinas teve que suspender sua produção.

Na província vizinha de Zhejiang, 69 empresas da cidade de Jinhua são submetidas, desde julho até setembro, a um racionamento de energia, e em Shaoxing, 200 companhias vivem a mesma situação, embora a condição ali se estenda até o fim do ano.

Em julho, Pequim anunciou o fim das tarifas preferenciais de eletricidade às indústrias grandes consumidoras de eletricidade, que reduziram suas contas em um valor estimado em 15 bilhões de iuanes (1,7 bilhão de euros).

O governo chinês tenta, com estas medidas, "esverdear" sua imagem "verde" depois de ter se comprometido, durante a Cúpula do Clima em Copenhague, a reduzir em 45% sua intensidade de carbono, ou seja, suas emissões de CO2 por unidade do PIB até 2020, com relação aos níveis de 2005.

Para alcançar este objetivo, o país investirá 738 bilhões de dólares na próxima década para produzir 15% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, sobretudo de origem hídrica e eólica.

No fim de 2009, a China reduziu sua intensidade energética em 14%, mas durante o primeiro semestre deste ano, voltou a aumentar levemente (0,09%). Este foi o primeiro aumento desde 2006.

Pequim sediará, em outubro, uma conferência climática preparatória para a Cúpula da ONU, em Cancún (México), prevista para o fim do ano e destinada a alcançar um acordo que substitua o protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

Neste contexto, se a China se distanciar de seu objetivo de redução para 2010, "sua credibilidade com relação aos compromissos sobre as mudanças climáticas ficará comprometida em nível internacional", disse Damien Ma, da Eurasia Group, empresa de consultores estabelecida em Nova York.

As tentativas precedentes de fechamento das fábricas poluidoras terminaram, com frequência, em fracasso, já que novas fábricas abriam no mesmo local onde outras fechavam. Mas o governo parece encarar o tema com mais seriedade desta vez, adverntindo à dirigência local que não teria promoções se não alcançarem seus objetivos de redução de emissões, disse Ma.

Para Yang Ailun, responsável do Greenpeace China, o fechamento de fábricas parece uma medida enganosa, uma vez que os problemas de poluição na China não param de se agravar nas três últimas décadas de crescimento econômico.

"Estas fábricas devem fechar, mas seria mais conveniente para o governo tomar medidas de longo prazo agindo sobre os preços (da energia)", disse a militante ecologista.

Fonte: Terra Notícias, 23/08/2010


Educação


Universidade Luso-Afro-Brasileira terá apoio da ONU

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) está participando da implantação da Universidade Luso-Afro-Brasileira (Unilab), que será construída no Nordeste do Brasil.

A Unilab é parte das iniciativas do governo brasileiro para apoiar a promoção da língua portuguesa no mundo. Metade das 5 mil vagas da instituição será reservada para estudantes dos países lusófonos na África e do Timor-Leste.

Saúde Pública

O ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso, Paulo Speller, foi confirmado nesta quarta-feira, 25 de agosto, na chefia da Unilab. A nova instituição de ensino terá como sede a cidade de Redenção, no Ceará.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) também apoiará a Unilab, que ministrará cursos em áreas como desenvolvimento agrário, saúde pública, gestão e educação. O programa busca apoiar estratégias de desenvolvimento e a redução das desigualdades sociais nos países africanos, no Timor Leste e no Brasil.

Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo brasileiro, a previsão é de que as obras do campus comecem em meados de 2011. As atividades acadêmicas terão início ainda este ano em instalações provisórias cedidas pela prefeitura local. A previsão é de que a Unilab atenda a 5 mil estudantes presenciais de graduação, dos quais 50% serão brasileiros e 50% originários de países parceiros.


Fonte: Terra Notícias, 26/08/2010.


Pró-Vida


Campanha Nacional por Parlamentares em Defesa da Vida é lançada em Fortaleza


O Movimento Nacional da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto e o Movimento em Favor da Vida (Movida) lançaram nesta quinta-feira (19), em Fortaleza, a Campanha Nacional - A Vida Depende de Seu Voto. A intenção da campanha é informar o eleitor para que escolha candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal que defendam a vida desde a concepção até a morte natural.

O lançamento, na sede do Movida (Av. Desembargador Moreira, 2120 / 1308 – Aldeota) contou com a presença da Presidente do Movimento Nacional da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto, a médica. Lenise Garcia, professora do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), do Presidente do Movida, Fernando Lobo, além de representantes de entidades que atuam em defesa da vida, e de atores e atrizes que estão em Fortaleza para a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental.

Em visita a Agência da Boa Notícia, Lenise Garcia informou que o postulante a cargo de deputado ou senador que desejar ter seu nome na lista de candidatos pró-vida, disponibilizado no site da campanha, pode acessar o endereço eletrônico www.brasilsemaborto.com.br, preencher o Termo de Compromisso, registrar o documento em cartório e enviar para o Movimento Nacional.

“Os critérios para a inclusão de candidatos na lista são honestidade, compromisso com a ética, com as necessidades do povo, competência administrativa, além da defesa da vida desde a sua concepção até a morte natural”, preconiza a campanha.

Lenise Garcia ressalta que as estatísticas sobre aborto no Brasil não são confiáveis e para aqueles que defendem a legalização do aborto, argumentando ser a prática um problema de saúde pública, a médica responde que “se aborto é um problema, aborto não é a solução”. Considera que aborto “seja legal ou clandestino” não é apenas uma agressão ao direito à vida do embrião, “faz muito mal também à mulher”.

Em Portugal, onde o aborto é legalizado há três anos, diz Lenise, as autoridades médicas estão preocupadas porque existem casos de jovens de 18 anos que já fizeram três abortos e estão com a saúde em desequilíbrio.

Mais informações: Lenise Garcia, Presidente do Movimento Nacional da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto - Fone: 61 3345 0221 – E-mail: contato@brasilsemaborto.com.br / Fernando Lobo, Presidente do Movida – Fone: 85 8696 1172)


Fonte: Agência da Boa Notícia, 20/08/2010


Solidariedade


Saiba como ajudar o Iprede a salvar vida de crianças cearenses

Com o estoque de leite em pó ainda em baixa, o Instituto de Prevenção à Desnutrição e à Excepcionalidade (Iprede) conta com a solidariedade da população para ajudar a salvar a vida de centenas de crianças cearenses. A coordenadora de Gestão de Parcerias da ONG, Eliane Melo, informa que para atender as crianças assistidas é preciso um total de 250 latas por dia. Essa é a necessidade mais urgente. Saiba como você pode colaborar.

Basta ligar para o telefone 3218.4000 e combinar a forma de entregar doação ou ir diretamente à sede do Iprede, na Rua Carlos Lobo, 15 – Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. “O ideal é ter um estoque para dez dias”, diz Eliane, mas na semana passada a reserva caiu a ponto de ter o suficiente apenas para um dia. Nesse caso, Eliane esclarece que o Iprede é obrigado a comprar leite em pó, afetando o orçamento feito para cobrir outras despesas.

Outra forma de ajudar o Iprede pode ser por meio de um valor cobrado na conta de luz, esclarece a coordenadora. Para isso, o interessado deve ligar para o Iprede e fazer ao cadastro, informando quanto deseja doar. Para quem não pode fazer doações em dinheiro, pode doar notas fiscais a partir de R$ 5,00. A ONG faz parte do Programa Programa “Sua Nota Vale Dinheiro", realizado pela Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará (Sefaz). Do valor total das notas, o Iprede recebe 0,5%.

O Iprede atende atualmente 1000 crianças entre zero e seis anos de Fortaleza e de outros municípios cearenses. Elas recebem acompanhamento de médico, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e pedagogo. Nos dias de atendimento, mães e crianças ficam um turno na sede da entidade, pela manhã ou à tarde.

“Muitas crianças vêm de outras cidades em transporte da Prefeitura e precisam ficar o dia todo”, explica Eliane. Nesses casos, a despesa do Iprede aumenta porque além de fornecer alimentação para o pequeno paciente e sua mãe, muitas vezes precisa alimentar também um irmão ou irmã que vem junto. São quatro refeições para cada um.

Saiba mais sobre o Iprede e como colaborar acessando o site http://www.iprede.org.br

Mais informações: Eliane Melo, Coordenadora da Gestão de Parcerias do Iprede – (fone: 85 3218.4000)


Fonte: Agência da Boa Notícia, 24/08/2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Criminosos Arrependidos


Verger

(Assassino do arcebispo de Paris)


A 3 de janeiro de 1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, ao sair da Igreja de Saint-Etienne-du-Mont, foi mortalmente ferido por um jovem padre chamado Verger. O criminoso foi condenado à morte e executado a 30 de janeiro.

Até o último instante não manifestou qualquer sentimento de pesar, de arrependimento, ou de sensibilidade. Evocado no mesmo dia da execução, deu as seguintes respostas:

1. Evocação. — R. Ainda estou preso ao corpo.

2. Então a vossa alma não está inteiramente liberta?

— R. Não... tenho medo... não sei... Esperai que torne a mim. Não estou morto, não é assim?

3. Arrependei-vos do que fizestes? — R. Fiz mal em matar, mas a isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações... Evocar-me-eis de outra vez.

4. Por que vos retirais?

— R. Se o visse, muito me atemorizaria, pelo receio de que me fizesse outro tanto.

5. Mas nada tendes a temer, uma vez que a vossa alma está separada do corpo. Renunciai a qualquer inquietação, que não é razoável agora.

— R. Que quereis? Acaso sois senhor das vossas impressões? Quanto a mim, não sei onde estou... estou doido.

6. Esforçai-vos por ser calmo.

— R. Não posso, porque estou louco... Esperai, que vou invocar toda a minha lucidez.

7. Se orásseis, talvez pudésseis concentrar os vossos pensamentos...

— R. Intimido-me... não me atrevo a orar.

8. Orai, que grande é a misericórdia de Deus! Oraremos convosco.

— R. Sim; eu sempre acreditei na infinita misericórdia de Deus.

9. Compreendeis melhor, agora, a vossa situação?

— R. Ela é tão extraordinária que ainda não posso apreendê-la.

10. Vedes a vossa vítima?

— R. Parece-me ouvir uma voz semelhante à sua, dizendo-me: “Não mais te quero...” Será, talvez, um efeito da imaginação!... Estou doido, vo-lo asseguro, pois que vejo meu corpo de um lado e a cabeça de outro... afigurando-se-me, porém, que vivo no Espaço, entre a Terra e o que denominais céu... Sinto como o frio de uma faca prestes a decepar-me o pescoço, mas isso será talvez o terror da morte... Também me parece ver uma multidão de Espíritos a rodear-me, olhando-me compadecidos... E falam-me, mas não os compreendo.

11. Entretanto, entre esses Espíritos há talvez um cuja presença vos humilha por causa do vosso crime.

— R. Dir-vos-ei que há apenas um que me apavora — o daquele a quem matei.

12. Lembrai-vos das anteriores existências?

— R. Não; estou indeciso, acreditando sonhar... Ainda uma vez, preciso tornar a mim.

13. (Três dias depois.) — Reconhecei-vos melhor agora?

—R. Já sei que não mais pertenço a esse mundo, e não o deploro. Pesa-me o que fiz, porém meu Espírito está mais livre. Sei a mais que há uma série de encarnações que nos dão conhecimentos úteis, a fim de nos tornarmos tão perfeitos quanto possível à criatura humana.

14. Sois punido pelo crime que cometestes?

— R. Sim; lamento o que fiz e isso faz-me sofrer.

15. Qual a vossa punição?

— R. Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões — o que aliás não fiz.

16. Qual a vossa sensação quando vos evocamos?

— R. De prazer e de temor, por isso que não sou mau.

17. Em que consiste tal prazer e tal temor?

— R. Prazer de conversar com os homens e poder em parte reparar as minhas faltas, confessando-as; e temor, que não posso definir — um quê de vergonha por ter sido um assassino.

18. Desejais reencarnar na Terra?

— R. Até o peço e desejo achar-me constantemente exposto ao assassínio, provando-lhe o temor.

Monsenhor Sibour, evocado, disse que perdoava ao assassino e orava para que ele se arrependesse. Disse mais que, posto estivesse presente à sua evocação, não se lhe tinha mostrado para lhe não aumentar os sofrimentos, porquanto o receio de o ver já era um sintoma de remorso, era já um castigo.

— P. O homem que mata sabe que, ao escolher nova existência, nela se tornará assassino?

— R. Não; ele sabe que, escolhendo uma vida de luta, tem probabilidades de matar um semelhante, ignorando porém se o fará, pois está quase sempre em luta consigo mesmo. A situação de Verger, ao morrer, é a de quase todos os que sucumbem violentamente. Não se verificando bruscamente a separação, eles ficam como aturdidos, sem saber se estão mortos ou vivos. A visão do arcebispo foi-lhe poupada por desnecessária ao seu remorso; mas outros Espíritos, em circunstâncias idênticas, são constantemente acossados pelo olhar das suas vítimas.

À enormidade do delito, Verger acrescentara a agravante de se não ter arrependido ainda em vida, estando, pois, nas condições requeridas para a eterna condenação. Mas, logo que deixou a Terra, o arrependimento invadiu-lhe a alma e, repudiando o passado, deseja sinceramente repará-lo. A isso não o impele a demasia do sofrimento, visto como nem mesmo teve tempo para sofrer, mas o alarme dessa consciência desprezada durante a vida, e que ora se lhe faz ouvir.

Por que não considerar valioso esse arrependimento? Por que admiti-lo dias antes como salvante do inferno, e depois não?

E por que, finalmente, o Deus misericordioso para o penitente, em vida, deixaria de o ser, por questão de horas, mais tarde? Fora para causar admiração a rápida mudança algumas vezes operada nas idéias de um criminoso, endurecido e impenitente até à morte, se o trespasse lhe não fosse também bastante, às vezes, para reconhecer toda a iniqüidade da sua conduta. Contudo, esse resultado está longe de ser geral — o que daria em conseqüência o não haver Espíritos maus. O arrependimento é muita vez tardio, e daí a dilação do castigo.

A obstinação no mal, em vida, provém às vezes do orgulho de quem recusa submeter-se e confessar os próprios erros, visto estar o homem sujeito à influência da matéria, que, lançando-lhe um véu sobre as percepções espirituais, o fascina e desvaira. Roto esse véu, súbita luz o aclara, e ele se encontra senhor da sua razão.

A manifestação imediata de melhores sentimentos é sempre indício de um progresso moral realizado, que apenas aguarda uma circunstância favorável para se revelar, ao passo que a persistência mais ou menos longa no mal, depois da morte, é incontestavelmente a prova de atraso do Espírito, no qual os instintos materiais atrofiam o gérmen do bem, de modo a lhe serem precisas novas provações para se corrigir.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec cap.VI itens de 1 a 18.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Céu e o Inferno por Divaldo Franco

Assista aqui na íntegra ao Programa Transição exibido em julho de 2009 pela Rede TV, com a participação do médium e orador espírita Divaldo Franco expondo sobre o tema “O Céu e o Inferno”.



Parte 1



Parte 2



Parte 3

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Suicidas



Antoine Bell


Era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se a 28 de fevereiro de 1865. Um dos nossos correspondentes, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, deu-nos dele as informações que se seguem:

“Conhecia-o, havia perto de 20 anos, como homem pacato e chefe de numerosa família. De tempos a certa parte imaginou ter comprado um tóxico na minha farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia nos peitos. A família vivia em constante ansiedade das 4 da tarde às 9 da manhã, hora esta em que se dirigia para a casa bancária, onde, aliás, escriturava os seus livros com muita regularidade, sem que jamais cometesse um só erro. Habitualmente dizia sentir dentro de si um ente que o fazia desempenhar com acerto e ordem a sua contabilidade. Quando se afigurava convencido da extravagância das suas idéias, exclamava: — “Não; não; quereis iludir-me... lembro-me... é a verdade...”

A pedido desse amigo, foi ele evocado em Paris, a 17 de abril de 1865.

1. Evocação. — R. Que pretendeis de mim? Sujeitar-me a um interrogatório? É inútil, tudo confessarei.

2. Bem longe de nós o pensamento de vos afligir com perguntas indiscretas; desejamos saber apenas qual a vossa posição nesse mundo, bem como se poderemos ser-vos úteis...

— R. Ah! Se for possível, ser-vos-ei extremamente grato. Tenho horror ao meu crime e sou muito infeliz!

3. Temos a esperança de que as nossas preces atenuarão as vossas penas. Afigura-se-nos que vos achais em boas condições, visto como o arrependimento já vos assedia o coração — o que constitui um começo de reabilitação. Deus, infinitamente misericordioso, sempre tem piedade do pecador arrependido. Orai conosco. (Faz-se a prece pelos suicidas, a qual se encontra em O Evangelho segundo o Espiritismo.)

Agora, tende a bondade de nos dizer de quais crimes vos reconheceis culpado. Tal confissão, humildemente feita, ser-vos-á favorável.

— R. Deixai primeiro que vos agradeça por esta esperança que fizestes raiar no meu coração. Oh! há já bastante tempo que vivia numa cidade banhada pelo Mediterrâneo. Amava, então, uma bela moça que me correspondia; mas, pelo fato de ser pobre, fui repelido pela família. A minha eleita participou-me que desposaria o filho de um negociante cujas transações se estendiam para além de dois mares, e assim fui eu desprezado. Louco de dor, resolvi acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o detestado rival, saciando o meu desejo de vingança. Repugnando-me os meios violentos, horrorizava-me a perpetração do crime, porém o meu ciúme a tudo sobrepujou. Na véspera do casamento, morria o meu rival envenenado, pelo meio que me pareceu mais fácil. Eis como se explicam as reminiscências do passado... Sim, eu já reencarnei, e preciso é que reencarne ainda... Oh! meu Deus, tende piedade das minhas lágrimas e da minha fraqueza!

4. Deploramos essa infelicidade que retardou vosso progresso e sinceramente vos lamentamos; dado, porém, que vos arrependais, Deus se compadecerá de vós. Dizei-nos se chegastes a executar o vosso projeto de suicídio...

— R. Não; e confesso, para vergonha minha, que a esperança se me desabrochou novamente no coração, com o desejo de me aproveitar do crime já cometido. Traíram-me, porém, os remorsos e acabei por expiar, no último suplício, aquele meu desvario: –– enforquei-me.

5. Na vossa última encarnação tínheis a consciência do mal praticado na penúltima?

— R. Nos últimos anos somente, e eis como: — eu era bom por natureza, e, depois de submetido, como todos os homicidas, ao tormento da visão perseverante da vítima, que me perseguia qual vivo remorso, dela me descartei depois de muitos anos, pelo meu arrependimento e pelas minhas preces. Recomecei outra existência — a última — que atravessei calmo e tímido. Tinha em mim como que vaga intuição da minha inata fraqueza, bem como da culpa anterior, cuja lembrança em estado latente conservara.
Mas um Espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, facilmente se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado.

Alternadamente influenciado por ele e por meu guia, que me protegia, eu era o envenenador e ao mesmo tempo o pai de família angariando pelo trabalho o sustento dos filhos.

Fascinado por esse demônio obsessor, deixei-me arrastar para o suicídio. Sou muito culpado realmente, porém menos do que se deliberasse por mim mesmo. Os suicidas da minha categoria, incapazes por sua fraqueza de resistir aos obsessores, são menos culpados e menos punidos do que os que abandonam a vida por efeito exclusivo da própria vontade.

Orai comigo para que o Espírito que tão fatalmente me obsidiou renuncie à sua vingança, e orai por mim para que adquira a energia, a força necessária para não ceder à prova do suicídio voluntário, prova a que serei submetido, dizem-me, na próxima encarnação.

Ao guia do médium: — Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio?

— R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem. Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.

6. Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vítima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?

— R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante. O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços.

Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine Bell patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso.

Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap.V (segunda parte).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Espíritos Sofredores



Príncipe Ouran


(Bordéus, 1862)

Um Espírito sofredor apresentou-se dando o nome de Ouran, príncipe russo de outros tempos.

— P. Quereis dar-nos algumas minudências sobre a vossa situação?

— R. Oh! felizes os humildes de coração, porque deles é o reino do céu! Orai por mim. Felizes os humildes de coração que escolhem uma posição modesta a fim de cumprirem a provação. Vós todos, a quem devora a inveja, não sabeis o estado a que ficou reduzido um desses que na Terra são considerados felizes; não avaliais o fogo que o abrasa nem os sacrifícios impostos pela riqueza quando por ela se quer obter a salvação! Permita-me o Senhor a mim, déspota orgulhoso, expiar os crimes derivados do meu orgulho entre aqueles mesmos a quem oprimi com a tirania! Orgulho! Repita-se constantemente a palavra para que se não esqueça nunca que ele é a fonte de todos os sofrimentos que nos acabrunham. Sim, eu abusei do poderio e favores de que dispunha; fui duro e cruel para com os inferiores, os quais tiveram de curvar-se a todos os meus caprichos, satisfazer a todas as minhas depravações. Quis a nobreza, a fortuna, as honras, e sucumbi sob peso superior às próprias forças.

Os Espíritos que sucumbem são geralmente levados a alegar um compromisso superior às próprias forças — o que é ainda um resto de orgulho e um meio de se desculparem para consigo mesmos, não se conformando com a própria fraqueza. Deus não dá a ninguém mais do que possa suportar, não exige da árvore nascente os frutos dados pelo tronco desenvolvido. Demais, os Espíritos têm liberdade; o que lhes falta é a vontade, e esta depende deles exclusivamente. Com força de vontade não há tendências viciosas insuperáveis; mas, quando um vício nos apraz, é natural que não façamos esforços por domá-lo. Assim, somente a nós devemos atribuir as respectivas conseqüências.

— P. Tendes consciência das vossas faltas, e isso é já um passo para a regeneração.

— R. Esta consciência é ainda um sofrimento. Para muitos Espíritos o sofrimento é um efeito quase material, visto como, atidos à Humanidade de sua última encarnação, não experimentam nem apreendem as sensações morais. Liberto da matéria, o sentimento moral aumentou-se, para mim, de tudo quanto às cruéis sensações físicas tinham de horrível.

— P. Lobrigais um termo aos vossos padecimentos?

— R. Sei que não serão eternos, mas não lhes entrevejo o fim, sendo-me antes preciso recomeçar a provação.

— P. E esperais fazê-lo em breve?

— R. Não sei ainda.

— P. Lembrai-vos dos vossos antecedentes? Faço-vos esta pergunta no intuito de me instruir.

— R. Vossos guias aí estão, e sabem do que precisais. Vivi no tempo de Marco Aurélio. Poderoso então, sucumbi ao orgulho, causa de todas as quedas. Depois de uma erraticidade de séculos, quis experimentar uma existência obscura.

“Pobre estudante, mendiguei o pão, mas o orgulho possuía-me sempre: o Espírito ganhara em ciência, mas não em virtude. Sábio ambicioso, vendi a consciência a quem mais dava, servindo a todas as vinganças, a todos os ódios. Sentia-me culpado, mas a sede de glórias e riquezas estrangulava a voz da consciência. A expiação ainda foi longa e cruel. Eu quis enfim, na minha última encarnação, reencetar uma vida de luxo e poderio, no intuito de dominar os tropeços, sem atender a conselhos. Era ainda o orgulho levando-me a confiar mais em mim mesmo do que no conselho dos protetores amigos que sempre velam por nós.

“Sabeis o resultado desta última tentativa. Hoje, enfim, compreendo e aguardo a misericórdia do Senhor. Deponho a seus pés o meu arrasado orgulho e peço-lhe que me sobrecarregue com o mais pesado tributo de humildade, pois com o auxílio da sua graça o peso me parecerá leve.

“Orai comigo e por mim: orai também para que esse fogo diabólico não devore os instintos que vos encaminham para Deus. Irmãos de sofrimentos, oxalá possa o meu exemplo aproveitar-vos e não esqueçais nunca que o orgulho é o inimigo da felicidade. É dele que promanam todos os males que acometem a Humanidade e a perseguem até nas regiões celestes.”

O guia do médium. — Concebestes dúvidas sobre a identidade deste Espírito, por vos parecer a sua linguagem em desacordo com o estado de sofrimento acusando inferioridade.

Desvanecei tais dúvidas, porque recebestes uma comunicação séria. Por mais sofredor, este Espírito tem assaz culta inteligência para exprimir-se de tal maneira. O que lhe faltava era apenas a humildade, sem a qual nenhum Espírito pode chegar a Deus. Essa humildade conquistou-a agora, e nós esperamos que, com perseverança, ele sairá triunfante de uma nova provação.

Nosso Pai celestial é justíssimo na sua sabedoria e leva em conta os esforços da criatura para dominar os maus instintos. Cada vitória sobre vós mesmos é um degrau franqueado nessa escada que tem uma extremidade na Terra e outra aos pés do Juiz supremo. Alçai-vos por esses degraus resolutamente, porque a subida é tanto mais suave quanto firme a vontade. Olhai sempre para cima a fim de vos encorajardes, porque ai daquele que pára e se volta. Depressa o atinge a vertigem, espanta-se do vácuo que o cerca, desanima e diz: — para que mais caminhar, se tão pouco o tenho feito e tanto me falta? Não, meus amigos, não vos volteis.

O orgulho está incorporado no homem; pois bem! aproveita-o na força e na coragem de terminar a vossa ascensão. Empregai-o ainda em dominar as fraquezas e galgai o topo da montanha eterna.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap. IV (segunda parte).

domingo, 22 de agosto de 2010

Mensagem da Semana



Ouvir a Mensagem



Calamidades e Provações


O homem desejou recursos para mais facilmente abrir estradas e a Divina Providência lhe suscitou a idéia de reunir areia e nitroglicerina, em cuja conjugação despontou a dinamite.

A comunidade beneficiou-se da descoberta, no entanto, certa facção organizou com ela a bomba destruidora de existências humanas.

O homem pediu veículos que lhe fizessem vencer o espaço, ganhando tempo, e o amparo Divino ofereceu-lhe os pensamentos necessários à construção das modernas máquinas de condução e transporte.

Essas bênçãos carrearam progresso e renovação para todos os setores das aquisições planetárias, entretanto, apareceram aqueles que desrespeitam as leis do trânsito, criando processos dolorosos de sofrimento e agravando débitos e resgates, nos princípios de causa e efeito.

O homem solicitou apoio contra a solidão psicológica e a Eterna Bondade, através da ciência, lhe concedeu o telégrafo, o rádio e o televisor, aproximando as coletividades e integrando no mesmo clima de aperfeiçoamento e cultura.

Apesar disso, junto desses nobres empreendimentos, surgiram aqueles que se valem de tão altos instrumentos de comunicação e solidariedade para a disseminação da discórdia e da guerra.

O homem rogou medidas contra a dor e a Compaixão Divina lhe enviou os anestésicos, favorecendo-lhe o tratamento e o reequilibro no campo orgânico.

Ao lado dessas concessões, porém, não faltam aqueles que transformam os medicamentos da paz e da misericórdia em tóxicos de deserção e delinqüência.

O homem pediu a desintegração atômica, no intuito de senhorear mais força, a fim de comandar o progresso, e a desintegração atômica está no mundo, ignorando-se que preço pagará o Orbe Terrestre, até que essa conquista seja respeitada fora de qualquer apelo à destruição.

Como é fácil observar, Deus concede sempre ao homem as possibilidades e vantagens que a Inteligência Humana resolve requisitar à Sabedoria Divina. Por isso mesmo, as calamidades que surjam nos caminhos da evolução no mundo, não ocorrem obviamente, sob a responsabilidade de Deus.


Emmanuel


Do livro Busca e acharás, Francisco Cândido Xavier.

sábado, 21 de agosto de 2010

O Poder do Pensamento


Pensamento e Mediunidade


" O silêncio se fez profundo e respeitoso.

O grupo esperava a mensagem terminal. Senti que o ambiente se fizera mais leve, mais agradável. Sobre a cabeça de Dona Celina apareceu brilhante feixe de luz. Desde esse instante, vimo-la extática, completamente desligada do corpo físico, cercada de azulíneas irradiações. Admirado com o belo fenômeno, enderecei um gesto de interrogação ao nosso orientador, que explicou sem detença:

- Nossa irmã Celina transmitirá a palavra de um benfeitor que, apesar de ausente daqui, sob o ponto de vista espacial, entrará em comunhão conosco através dos fluidos teledinâmicos que o ligam à mente da médium.

- Mas isso é possível? – indagou Hilário, discretamente.

Áulus ponderou, de imediato:

- Lembre-se da radiofonia e da televisão, hoje realizações amplamente conhecidas no mundo. Um homem, de cidade a cidade, pode ouvir a mensagem de um companheiro e vê-lo ao mesmo tempo, desde que ambos estejam em perfeita sintonia, através do mesmo comprimento de onda. Celina conhece a sublimidade das forças que as envolvem e entrega-se, confiante, assimilando a corrente mental que a solicita. Irradiará o comunicado-lição, automaticamente, qual acontece na psicofonia sonambúlica, porque o amigo espiritual lhe encontra as células cerebrais e as energias nervosas quais teclas bem ajustadas de um piano harmonioso e dócil.

" - Meus amigos – começou a dizer o instrutor que nos acompanhava o trabalho a longa distância -, guardemos a paz que Jesus nos legou, a fim de que possamos servi-lo em paz.

Em matéria de mediunidade, não nos esqueçamos do pensamento. Nossa alma vive onde se lhe situa o coração. Caminharemos, ao influxo de nossas próprias criações, seja onde for. A gravitação no campo mental é tão incisiva, quanto na esfera da experiência física. Servindo ao progresso geral, move-se a alma na glória do bem. Emparedando-se no egoísmo, arrasta-se, em desequilíbrio, sob as trevas do mal.

" Não vale encarnar-se ou desencarnar-se simplesmente. Todos os dias, as formas se fazem e se desfazem. Vale a renovação interior com acréscimo de visão, a fim de seguirmos à frente, com a verdadeira noção da eternidade em que nos deslocamos no tempo.

Consciência pesada de propósitos malignos, revestida de remorso, referta de ambições desvairadas ou denegrida de aflições não pode senão atrair forças semelhantes que a encadeiam a torvelinhos infernais. A obsessão é sinistro conúbio da mente com o desequilíbrio comum às trevas. Pensamos, e imprimimos existência ao objeto idealizado.

A resultante visível de nossas cogitações mais íntima denuncia a condição espiritual que nos é própria, e quantos se afinam com a natureza de nossas inclinações e desejos aproximam-se de nós, pelas amostras de nossos pensamentos.

Se persistirmos nas esferas mais baixas da experiência humana, os que ainda jornadeiam nas linhas da animalidade nos procuram, atraídos pelo tipo de nossos impulsos inferiores, absorvendo as substâncias mentais que emitimos e projetando sobre nós os elementos de que se fazem portadores.

Imaginar é criar.

E toda criação tem vida e movimento, ainda que ligeiros, impondo responsabilidade à consciência que a manifesta. E como a vida e o movimento se vinculam aos princípios de permuta, é indispensável analisar o que damos, a fim de ajuizar quanto àquilo que devamos receber.

Quem apenas mentalize angústias e crime, miséria e perturbação, poderá refletir no espelho da própria alma outras imagens que não sejam as da desarmonia e do sofrimento?

Um viciado entre os santos não lhes reconheceria a pureza, de vez que, em se alimentando das próprias emanações, nada conseguiria enxergar senão as próprias sombras.

" Pelo pensamento, escravizamo-nos troncos de suplício infernal, sentenciando-nos, por vezes, a séculos de peregrinação nos trilhos da dor e da morte. A mediunidade torturada não é senão o enlace das almas comprometido em aflitivas provações, nos lance de reajuste. E, para abreviar o tormento que flagela de mil modos a consciência reencarnada ou desencarnada, quando nas grades expiatórias, é imprescindível atender à renovação mental, único meio de recuperação da harmonia.

Satisfazer-se alguém com o rótulo, em matéria religiosa, sem qualquer esforço de sublimação interior, é tão perigoso para a alma quanto deter uma designação honorífica entre os homens com menosprezo pela responsabilidade que ela impõe. Títulos de fé não constituem meras palavras, acobertando-nos deficiências e fraquezas. Expressam deveres de melhoria a que não nos será lícito fugir, sem agravo de obrigações.

Em nossos círculos de trabalho, desse modo, não nos bastará o ato de crer e convencer. Ninguém é realmente espírita à altura desse nome, tão-só porque haja conseguido a cura de uma escabiose renitente, com o amparo de entidades amigas, e se decida, por isso, a aceitar a intervenção do Além-Túmulo na sua existência; e ninguém é médium, na elevada conceituação de termo, somente porque se faça órgão de comunicação entre criaturas visíveis e invisíveis.

Para conquistar a posição de trabalho a que nos destinamos, de conformidade com os princípios superiores que nos enaltecem o roteiro, é necessário concretizar-lhes a essência em nossa estrada, por intermédio do testemunho de nossa conversão ao amor santificante.

" O pensamento é tão significativo na mediunidade, quanto o leito é importante para o rio. Ponde as águas puras sobre um leito de lama pútrida e não tereis senão a escura corrente da viciação.

Indubitavelmente, divinas mensagens descerão do Céu à Terra. Entretanto, para isso, é imperioso construir canalização adequada. Jesus espera pela formação de mensageiros humanos capazes de projetar no mundo as maravilhas do seu Reino. Para atingir esse aprimoramento ideal é imprescindível que o detentor de faculdades psíquicas não se detenha no simples intercâmbio. Ser-lhe-á indispensável à consagração de suas forças às mais altas formas de vida, buscando na educação de si mesmo e no serviço desinteressado a favor do próximo o material de pavimentação de sua própria senda.

A comunhão com os orientadores do progresso espiritual do mundo, através do livro, nos enriquece de conhecimento, acentuando-nos o valor mental; e a plantação de bondade constante traz consigo a colheita de simpatia, sem a qual o celeiro da existência se reduz a furna de desespero e desânimo.

Não basta ver, ouvir ou incorporar Espíritos desencarnados, para que alguém seja conduzido à respeitabilidade. Irmãos ignorantes ou irresponsáveis enxameiam, como é natural, todos os departamentos da Terra, em vista da posição evolutiva deficitária em que ainda se encontram as coletividades do Planeta e, muita vez, sem qualquer raiz de perversidade propriamente dita, milhares de almas, despidas do envoltório denso, praticam vampirismo junto dos encarnados invigilantes, simplesmente no intuito de prosseguirem coladas às sensações do campo físico das quais não se desvencilharam. Toda tarefa, para crescer, exige trabalhadores que se dediquem ao crescimento, à elevação de si mesmos.

" Que mensageiro do Céu fará fulgir a mensagem celestial em nosso entendimento, quando o espelho de nossa alma jaz denegrido pelos mais inferiores dos interesses?

Em vão buscaria a estrela retratar-se na lama de um charco.

Amigos, pensemos no bem e executemo-lo.

Tudo o que existe dentro da Natureza é a idéia exteriorizada.

O Universo é a projeção da Mente Divina e a Terra, qual a conheceis em seu conteúdo político e social, é produto da Mente Humana.

Civilizações e povos, culturas e experiências constituem formas de pensamentos, através das quais evolvemos, incessantemente, para esferas mais altas.

Atentemos, pois, para a obrigação de auto-aperfeiçoamento.

" Escalemos o plano superior, instilando pensamentos de sublimação naqueles que nos cercam.

A palavra esclarece.

O exemplo arrebata.

Ajustemo-nos ao Evangelho Redentor.

Cristo é a meta de nossa renovação.

Regenerando a nossa existência pelos padrões dEle, reestruturaremos a vida íntima daqueles que nos rodeiam.

Meus amigos, crede!...

O pensamento puro e operante é a força que nos arroja do ódio ao amor, da dor à alegria, da Terra ao Céu...

Procuremos a consciência de Jesus para que a nossa consciência lhe retrate a perfeição e a beleza!...

Saibamos refletir-lhe a glória e o amor, a fim de que a luz celeste se espelhe sobre as almas, como o esplendor solar se estende sobre o mundo.

Comecemos nosso esforço de soerguimento espiritual desde hoje e, amanhã, teremos avançado consideravelmente no grande caminho!...

Meus amigos, meus irmãos, rogando a Jesus que nos ampare a todos, deixo-vos com um até breve.

A voz da médium emudeceu."


Extraído do livro “Nos Domínios da Mediunidade”, de Francisco Cândido Xavier”, pelo espírito André Luiz.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os Demônios segundo o Espiritismo


Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual.

Atingido o apogeu, tornam-se puros espíritos ou anjos segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do embrião do ser inteligente até ao anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso. Do expresso resulta que há Espíritos em todos os graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a posição em que se acham, na imensa escala do progresso.

Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A estes pode-se denominar demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos atribuídos. O Espiritismo não lhes dá tal nome por se prender ele à idéia de uma criação distinta do gênero humano, como seres de natureza essencialmente perversa, votados ao mal eternamente e incapazes de qualquer progresso para o bem.

Segundo a doutrina da Igreja os demônios foram criados bons e tornaram-se maus por sua desobediência: são anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base da escala, hão de nela graduar-se. Os que por apatia, negligência, obstinação ou má vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as conseqüências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas respectivas conseqüências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se, mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento. “Submetidos à lei geral do progresso, em virtude da sua aptidão para o mesmo, não progridem, ainda assim, contra a vontade.” Deus fornece-lhes constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por privilégio; mas o primeiro lugar a todos é franqueado à custa do esforço próprio.

Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela rota comum.

Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso; preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias. E como Deus criou de toda a eternidade, segue-se que de toda a eternidade houve número suficiente para satisfazer às necessidades do governo universal. Deste modo uma só espécie de seres inteligentes, submetida à lei de progresso, satisfaz todos os fins da Criação.

Por fim, a unidade da Criação, aliada à idéia de uma origem comum, tendo o mesmo ponto de partida e trajetória, elevando-se pelo próprio mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do que a criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dotes naturais, que seriam outros tantos privilégios.

A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a lei do progresso, mas vendo todavia seres de diversos graus, concluiu que seriam produto de outras tantas criações especiais. E assim foi que chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo concedendo a alguns de seus filhos, e a outros impondo o mais rude trabalho. Não admira que por muito tempo os homens achassem justificação para tais preferências, quando eles próprios delas usavam em relação aos filhos, estabelecendo direitos de primogenitura e outros privilégios de nascimento. Podiam tais homens acreditar que andavam mais errados que Deus?

Hoje, porém, alargou-se o circulo das idéias: o homem vê mais claro e tem noções mais precisas de justiça; desejando-a para si e nem sempre encontrando-a na Terra, ele quer pelo menos encontrá-la mais perfeita no Céu.

E aqui está por que lhe repugna à razão toda e qualquer doutrina, na qual não resplenda a Justiça Divina na plenitude integral da sua pureza.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap.IX, itens de 20 a 23.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Purgatório - 2ª parte


Considerando-se quão grande é o sofrimento de certos Espíritos culpados no mundo invisível, quanto é terrível a situação de outros, tanto mais penosa pela impotência de preverem o termo desses sofrimentos, poder-se-ia dizer que se acham no inferno, se tal vocábulo não implicasse a idéia de um castigo eterno e material.

Mercê, porém, da revelação dos Espíritos e dos exemplos que nos oferecem, sabemos que o prazo da expiação esta subordinado ao melhoramento do culpado.

O Espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nos achamos, e definindo-o precisamente, e explicando a causa das misérias terrestres, conduz à crença aqueles mesmos que o negam. Repele as preces pelos mortos? Ao contrário, visto que os Espíritos sofredores as solicitam; eleva-as a um dever de caridade e demonstra a sua eficácia para os conduzir ao bem e, por esse meio, abreviar-lhes os tormentos (2). Falando à inteligência, tem levado a fé a muito incrédulo, incutindo a prece no ânimo dos que a escarneciam. O que o Espiritismo afirma é que o valor da prece está no pensamento e não nas palavras, que as melhores preces são as do coração e não dos lábios, e, finalmente, as que cada qual murmura de si mesmo e não as que se mandam dizer por dinheiro. Quem, pois, ousaria censurá-lo?

Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na realidade não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: — punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-se à figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a realidade.

A palavra purgatório sugere a idéia de um lugar circunscrito: eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação.

Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons Espíritos; e estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à Humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições.

Aliás, por esta transformação, que neste momento se opera, a Terra se elevará na hierarquia dos mundos. (ESE, cap. III — “Progressão dos Mundos”.

Mas, por que não teria o Cristo falado do purgatório? É que, não existindo a idéia, não havia palavra que a representasse. O Cristo serviu-se da palavra inferno, a única usada, como termo genérico, para designar as penas futuras, sem distinção. Colocasse ele, ao lado da palavra inferno, uma equivalente a purgatório e não poderia precisar-lhe o verdadeiro sentido sem ferir uma questão reservada ao futuro; teria, enfim, de consagrar a existência de dois lugares especiais de castigo. O inferno em sua concepção genérica, revelando a idéia de punição, encerrava, implicitamente, a do purgatório, que não é senão um modo de penalidade.

Reservado ao futuro o esclarecimento sobre a natureza das penas, competia-lhe igualmente reduzir o inferno ao seu justo valor. Uma vez que a Igreja, após seis séculos, houve por bem suprir o silêncio de Jesus quanto ao purgatório, decretando-lhe a existência, é porque ela julgou que ele não havia dito tudo. E por que não havia de dar-se sobre outros pontos o que com este se deu?


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap V (primeira parte), itens de 7 a 10.


(2) Vede O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII — “Ação da prece”.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Purgatório - 1ª parte



O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana.

O princípio do purgatório é, pois, fundado na eqüidade, porque, comparado à justiça humana, é a detenção temporária a par da condenação perpétua. Que julgar de um país que só tivesse a pena de morte para os crimes e os simples delitos?

Sem o purgatório, só há para as almas duas alternativas extremas: a suprema felicidade ou o eterno suplício. E nessa hipótese, que seria das almas somente culpadas de ligeiras faltas? Ou compartilhariam da felicidade dos eleitos, ainda quando imperfeitas, ou sofreriam o castigo dos maiores criminosos, ainda quando não houvessem feito muito mal, o que não seria nem justo, nem racional.

Mas, necessariamente, a noção do purgatório deveria ser incompleta, porque apenas conhecendo a penalidade do fogo fizeram dele um inferno menos tenebroso, visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. Sendo o dogma das penas eternas incompatível com o progresso, as almas do purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção. E se foi bom o primeiro pensamento, outro tanto não acontece quanto às conseqüências dele decorrentes, pelos abusos que originaram. As preces pagas transformaram o purgatório em mina mais rendosa que o inferno. (1)

Jamais foram determinados e definidos claramente o lugar do purgatório e a natureza das penas aí sofridas. À Nova Revelação estava reservado o preenchimento dessa lacuna, explicando-nos a causa das terrenas misérias da vida, das quais só a pluralidade das existências poderia mostrar-nos a justiça.

Essas misérias decorrem necessariamente das imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhe as conseqüências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos.

O mais das vezes ele é desgraçado por sua própria culpa, porém, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas. Repara em uma vida de provações o que a outrem fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar males e progredir para o bem. São para a alma lições da experiência, rudes às vezes, mas tanto mais proveitosas para o futuro, quanto profundas as impressões que deixam. Essas vicissitudes ocasionam incessantes lutas que lhe desenvolvem as forças e as faculdades intelectivas e morais. Por essas lutas a alma se retempera no bem, triunfando sempre que tiver denodo para mantê-las até ao fim.

O prêmio da vitória está na vida espiritual, onde a alma entra radiante e triunfadora como soldado que se destaca da refrega para receber a palma gloriosa.

Em cada existência, uma ocasião se depara à alma para dar um passo avante; de sua vontade depende a maior ou menor extensão desse passo: franquear muitos degraus ou ficar no mesmo ponto. Neste último caso, e porque cedo ou tarde se impõe sempre o pagamento de suas dívidas, terá de recomeçar nova existência em condições ainda mais penosas, porque a uma nódoa não apagada ajunta outra nódoa.

É, pois, nas sucessivas encarnações que a alma se despoja das suas imperfeições, que se purga, em uma palavra, até que esteja bastante pura para deixar os mundos de expiação como a Terra, onde os homens expiam o passado e o presente, em proveito do futuro. Contrariamente, porém, à idéia que deles se faz, depende de cada um prolongar ou abreviar a sua permanência, segundo o grau de adiantamento e pureza atingido pelo próprio esforço sobre si mesmo. O livramento se dá, não por conclusão de tempo nem por alheios méritos, mas pelo próprio mérito de cada um, consoante estas palavras do Cristo: — A cada um, segundo as suas obras, palavras que resumem integralmente a justiça de Deus.

Aquele, pois, que sofre nesta vida pode dizer-se que é porque não se purificou suficientemente em sua existência anterior, devendo, se o não fizer nesta, sofrer ainda na seguinte. Isto é ao mesmo tempo eqüitativo e lógico. Sendo o sofrimento inerente à imperfeição, tanto mais tempo se sofre quanto mais imperfeito se for, da mesma forma por que tanto mais tempo persistirá uma enfermidade quanto maior a demora em tratá-la. Assim é que, enquanto o homem for orgulhoso, sofrerá as conseqüências do orgulho; enquanto egoísta, as do egoísmo.

Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação. É por isso que ele se acha nessa nova existência, quer com as pessoas a quem ofendeu, quer em meios análogos àqueles em que praticou o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi mau rico, ou humilhado, se orgulhoso.

A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra não constitui duplo castigo para eles, porém um complemento, um desdobramento do trabalho efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende aproveitá-lo. E não lhe será preferível voltar à Terra, com probabilidades de alcançar o céu, a ser condenado sem remissão, deixando-a definitivamente?

A concessão dessa liberdade é uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça de Deus, que quer que o homem tudo deva aos seus esforços e seja o obreiro do seu futuro; que, infeliz por mais ou menos tempo, não se queixe senão de si mesmo, pois que a rota do progresso lhe está sempre franca.


“O Céu e o Inferno”, Allan Kardec, cap V (primeira parte), itens de 1 a 6.



(1) O purgatório originou o comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada no céu. Este abuso foi a causa primária da Reforma, levando Lutero a rejeitar o purgatório.
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