quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Atualidades Espíritas


O Espírita perante o Sofrimento


Por Miguel Vives


Sabemos que a Terra é lugar de expiação e dor, como sabemos que a dor purifica e eleva. A dor é um dos meios pelos quais progredimos mais rapidamente. Como, pois, devemos encarar as dores e os sofrimentos físicos da vida? Com calma, resignação, e até com alegria, lembrando sempre que a dor é o caminho mais rápido para a nossa ascensão às mais altas regiões, e o meio mais seguro de afastar-nos das veleidades humanas.

Temos visto espíritas que souberam sofrer com resignação e alegria. Embora nos momentos de paroxismo da dor estivessem quietos e sérios, e às vezes cansados, o que é muito natural, uma vez passados esses momentos estavam relativamente tranquilos e alegres. E quando a doença lhes dava tréguas, mostravam-se expansivos e dispostos a exaltar a Justiça de Deus. Foram poucos os que vimos. Mas os que desencarnaram, e dos quais pudemos saber posteriormente, mostravam-se sempre num estado muito feliz no mundo espiritual, satisfeitos por haverem sabido sofrer com serenidade as dores da existência material.

Vimos outros espíritas que, embora aparentassem resignação, também choravam e lamentavam seus muitos sofrimentos. Entendo que esses espíritas não andavam bem, e não estavam livres de cair. Porque a tristeza engendra o mau humor, que pode dar lugar à murmuração contra o destino. E quando chegamos à murmuração, estamos a um passo da revolta. Um espírita nesse estado revela atraso moral e desconhecimento da lei divina. Que diríamos de um comerciante que reclamasse de ter muitos negócios a realizar, ganhando muito dinheiro? Diríamos que era um mau comerciante, incapaz de aproveitar as boas oportunidades. Assim são os espíritas que, diante das dores da vida, se entristecem ou se atribulam, e às vezes se revoltam.

O espírita deve encarar a existência material como um curso de provas de toda espécie: físicas e morais, que servem para levá-lo a um verdadeiro progresso. Nunca deve confundir essa existência com a verdadeira vida, mas encará-la como um período de estudos e provas, em que se prepara com vistas a esta última, que se encontra na erraticidade. Cada dia que passamos na carne corresponde a milhares de anos que iremos viver no Espaço. Que significam, pois, estes pequenos períodos que chamamos de vida material, diante da vida espiritual que nos aguarda? Se a lei nos obriga a sofrer, porque nada na Criação escapa à Justiça, devemos fazê-lo com a maior serenidade. Pois sabemos que isso constitui para nós um grande bem, e que chegamos à hora de provar se o Espiritismo mergulhou em nosso interior ou se permanece apenas superficial. Se é superficial, não podemos chamar-nos espíritas. Se estiver arraigado no mais fundo de nossa alma, saberemos encarar as provas e dores da existência como necessárias, e honraremos a doutrina que professamos.

Nenhum espírita deve duvidar que no Reino de Deus não se entra de surpresa, nem se atinge a felicidade senão depois da purificação. Assim é que as comodidades, as alegrias mundanas, os gozos da Terra, não são os caminhos indicados para alcançarmos a felicidade no espaço. Também não deve duvidar que, quanto mais próximo se acha da sua felicidade espiritual, mais submetido será a todas as provas terrenas. Basta recordar a vida dos mártires, dos justos, dos humildes e dos bons, e compará-la com a maneira de viver dos grandes do mundo, dos opulentos, dos potentados, para ver que enquanto os primeiros tem os olhos voltados para o futuro, os segundos não veem mais do que as delícias mundanas. Disso nos dá uma excelente prova o Senhor e Mestre, em seus mandamentos e em seus atos:

Bem-aventurados os que sofrem, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

Estas são as palavras do Senhor. Confiemos n’Ele. Sigamos seu exemplo. Todo espírita submetido a grandes dores mantenha-se forte, cheio de calma, de amor ao Pai, de resignação e de submissão à Justiça Divina. E se às vezes a tentação o envolver, que se defenda com a prece, com o amor pelos que sofreram antes dele, não esquecendo jamais que por trás da dor suportada com alegria e calma virá a felicidade na vida eterna.


Do livro “O Tesouro dos Espíritas, Guia Prático para a Vida Espírita”, de Miguel Vives.

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