terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Arauto Gauttama


O Príncipe

Siddhartha Gauttama nasceu em Lumbini, ao norte da Índia (hoje essa região pertence ao Nepal), no ano de 563 a.C. Ao nascer, o filho do rei Shudodhana foi apontado por sábios da região como um futuro homem santo. O jovem príncipe, herdeiro de grande fortuna, foi então protegido por seu pai, que tentava isolá-lo das mazelas da vida do lado de fora de seu palácio, tentando assim evitar o cumprimento da profecia.

Casado com Yashodora e pai do pequeno Rahula, Siddhartha, apesar do luxo e riqueza em que vivia, padecia de um enorme vazio em sua alma. Aos 29 anos de idade, contrariando seu pai, se aventurou a um passeio fora do palácio. Ao sair se deparou com um mundo inexistente para ele dentro dos muros da fortaleza em que vivia. A visão de um homem velho acaba por aumentar a angústia do príncipe. Indagando seu criado sobre a condição do ancião, obteve a resposta de que todos os homens iriam passar pela velhice. Ao ver um doente, perguntou ao mesmo criado o porquê do sofrimento daquele ser. A resposta foi a mesma da primeira pergunta, todos, em algum momento da vida, seriam vítimas de doenças. Quando vislumbrou um cadáver, entendeu que todos também passariam pela experiência da morte, provocando mais sofrimento nos entes queridos. Segundo os Upanishads, a última parte dos Vedas, (escrituras sagradas na qual se baseia o Hinduísmo), o homem estaria fadado ao samsara, eterno ciclo de morte e renascimento, a não ser que conseguisse renunciar às ações e ao mundo das ilusões externas atingindo assim a moksa, estado na qual a consciência se liberta das seguidas reencarnações.

Impressionado com a aparente serenidade de um Sadhu (iogues que seguem um caminho de austeridade, jejum e meditação para atingir a iluminação e assim quebrar o samsara), Siddhartha resolve assumir a condição de asceta, buscando as respostas que, segundo algumas interpretações do hinduísmo, eram destinadas apenas à aqueles que se iniciavam na prática da renúncia dos bens materiais e laços afetivos.

A Iluminação

Durante seis anos, como asceta experimentou todos os tipos de privações, chegando a ingerir como refeição um único grão de arroz por dia. Ao refletir sobre a ideia que a dor e a negação são a fonte da libertação, chegou à conclusão que era a mente quem comandava o corpo. O controle dela era a chave da iluminação e não o simples domínio do corpo. Voltou a se alimentar e passou a reprovar a ideia de que a mortificação do corpo o levaria aos seus objetivos.

Um dia, já com 35 anos, ele se sentou embaixo de uma figueira (esse local é hoje conhecido como Bodh Gaya, “o local da iluminação”), para meditar, determinado a não sair dali até atingir a iluminação. Assediado por Kama-Mara (deus indiano que representa o desejo e a morte) e seus filhos, Confusão, Alegria, Orgulho, Luxúria, Delícia e Futilidade, Siddhartha mantém-se impassível diante da tentativa de ser desviado de sua busca da realidade divina.

No Ocidente, a mitologia do famoso embate entre Siddhartha e Kama-Mara pode ser interpretada como a liberação dos medos e fantasias inerentes de todo ser humano. Apesar das investidas dos deuses, ele entra em êxtase divino e consegue acessar todas suas encarnações até aquela existência. Em seguida, é assolado por um profundo sentimento de compaixão para com todos os seres vivos que estão presos no ciclo de morte e renascimento.

Ainda naquela noite, atinge o oitavo estágio da meditação e torna-se um Buda (palavra em sânscrito que significa iluminado ou desperto). A partir daí, passou a pregar seus ensinamentos. Foram mais de 45 anos, até a sua morte em 483 a.C.


Fernando Savaglia

Trecho do texto “O Caminho do Buda”, de autoria de Fernando Savaglia.

Um comentário:

Marites Rehermann disse...

Que belo texto!! Adoro visitar este cantinho de luz...
Beijos no coração!♥
Mari

^