quinta-feira, 10 de maio de 2012

A Dor, o Carma e os Flagelos, à Luz do Espiritismo

Tudo o que vive neste mundo – a natureza, os animais e os homens – sofre e, no entanto, foi por amor que Deus formou os seres. Essa informação estabelece uma contradição, aparentemente inexplicável, que já perturbou muitos pensadores e os levou à dúvida e ao pessimismo.

Com as luzes trazidas pela doutrina espírita, o fato é perfeitamente compreensível.

O animal está sujeito à luta ardente pela vida. Entre as ervas do prado, as folhas e a ramaria dos bosques, nos ares, no seio das águas, por toda a parte desenrolam-se dramas ignorados.

No tocante à Humanidade, sabemos que sua história nada mais é que um longo martirológio. Ao longo dos tempos, por cima dos séculos, rola a triste epopeia dos sofrimentos humanos.

A dor segue-nos os passos, espreita-nos em todas as voltas do caminho, e, diante desta esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem tem feito e ainda faz a eterna pergunta:

Por que existe a dor?

Valendo-nos das sábias palavras escritas por Léon Denis, podemos dizer que, fundamentalmente considerada, a dor é “uma lei de equilíbrio e educação”. Nesse sentido, tudo que a produz, como os flagelos naturais tão frequentes no mundo, ocorre para que a Humanidade possa “progredir mais depressa”.

O flagelo, que tem sido interpretado geralmente como algo prejudicial, seria, então, na realidade, o meio pelo qual as transformações necessárias ao progresso humano se realizam com maior rapidez.

Há, sem dúvida, outros processos menos rigorosos para levar os homens ao progresso, e Deus os emprega todos os dias, dando a todos os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal, o que nem sempre é levado em conta pela criatura que habita este globo, o que torna necessário a utilização de outros meios que mostrem aos homens a sua fragilidade em face da vida, abatendo, por consequência, o sentimento do orgulho, que gera os principais males que atrasam o progresso moral da Humanidade.

Com o abatimento do orgulho, a Humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação é assinalada por uma crise que é para o gênero humano o que são, para as pessoas, as crises de crescimento. Essas crises tornam-se muitas vezes penosas, dolorosas, mas são sempre seguidas de uma fase de grande progresso material e moral.

Quando os flagelos naturais – cataclismos, enchentes, seca, epidemias, pragas que assolam as plantações, terremotos, ciclones, maremotos e erupções vulcânicas – se abatem sobre a Humanidade, muitos, certamente, revoltam-se contra Deus e perdem oportunidades valiosas de crescimento pela incompreensão do significado de tais fatos.

Essa incompreensão deriva obviamente do desconhecimento da Lei do Carma ou de Causa e Efeito, que exerce sua influência inelutável sobre as pessoas individualmente consideradas e sobre os grupos sociais. Assim, quando uma família, uma nação ou determinado grupo étnico busca algo que lhe traga maiores satisfações, esforçando-se por melhorar suas condições de vida ou adotando medidas que visem a acelerar seu desenvolvimento, sem prejudicar ou fazer mal a outrem, estará contribuindo para a evolução da Humanidade, e isto é bom. Ela receberá, então, novas e mais amplas oportunidades de trabalho e progresso, que conduzem os indivíduos que a compõem a níveis cada vez mais elevados.

Se, porém, procede de modo diferente, sofrerá, mais cedo ou mais tarde, a perda de tudo o que adquiriu injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e aflitivas, conforme o grau de malícia e crueldade que tenha caracterizado suas ações. É assim que, mais tarde, em outras existências planetárias, são chamadas a expiações coletivas ou individuais, sob a forma de flagelos ou processos de natureza semelhante.

Cabe, no entanto, assinalar que muitos dos chamados flagelos resultam tão-somente da imprevidência do homem, que os vai conjurando à medida que adquire conhecimento e experiência, sendo certo, porém, que entre os males que afligem a Humanidade há alguns de caráter geral, previstos nos decretos da Providência, dos quais cada pessoa recebe, mais ou menos, o contragolpe, e a esses nada pode o homem opor, a não ser a sua submissão à vontade de Deus.

Na primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocadas a peste, a fome, as inundações e as intempéries fatais à produção agrícola. Enfrentando tais flagelos, o homem é impulsionado pela necessidade a buscar soluções para libertar-se do mal que o ataca.

É por isso que a dor se torna um processo, um meio de equilíbrio e educação, como dizia Léon Denis.


Astolfo O. de Oliveira Filho (Londrina-Paraná)

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