terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

As Encarnações de Scheilla


 Joana Francisca Fremiot de Chantal



Santa Joana Francisca Fremiot nasceu a 23 de janeiro de 1572, na cidade de Dijon, França, nove anos depois do término do Concílio de Trento. Estava destinada a ser um dos grandes santos que o Senhor suscitou para defender e renovar a Igreja depois do caos causado pela divisão dos protestantes. Santa Joana foi contemporânea de São Carlos Borromeu da Itália, de Santa Teresa d' Ávila e de São João da Cruz da Espanha, de São João Eudes e de seus compatriotas, o Cardeal de Berulle, o Padre Olier e seus dois renomados diretores espirituais, São Francisco de Sales e São Vicente de Paulo. No mundo secular Joana foi contemporânea de Catarina de Medici, do Rei Luís XIII, Richelieu, Maria Stuart, a Rainha Isabel e Shakespeare.

Ela própria se apresenta: "Sou Joana Francisca Frémyot, natural de Dijon, capital da Borgonha, filha do senhor Frémyot, presidente do Parlamento de Dijon, e da senhora Margarida de Barbisey”.

Com apenas um ano e meio de idade perdeu a mãe, e seu pai se dedicou inteiramente à educação dos seus três filhos, inculcando-lhes antes de tudo o amor de Deus e a doutrina da fé católica.

Joana Francisca era a admiração de todos os que com ela conviviam, por sua inteligência viva, seu reto e sólido juízo, seu caráter firme e varonil, sua prudência e discrição, que unidos ao seu coração inclinado ao bem e à virtude foram a base sobre a qual se elevou o edifício de sua perfeição.

Juventude

Contraiu matrimônio com o jovem Christophe de Rabutin-Chantal, Barão de Chantal. Desde sua chegada ao castelo do esposo demonstrou sua habilidade na administração das propriedades, fazendo-as mais produtivas que antes. Deus abençoou seu lar com seis filhos. Os dois primeiros morreram ao nascer. Enfim, após três ou quatro anos de casamento, ela deu à luz o seu primogênito Celso Benigno, nascendo a seguir Maria Amada, Francisca e Carlota.

Assumiu em todo o momento o seu papel de mulher “perfeita”, dedicada à educação de seus filhos e às obras de caridade. Depois de algumas semanas do nascimento de Carlota, o barão sofreu um acidente de caça e morreu. Viúva aos 28 anos, apesar da sua profunda tristeza, abraçou a vontade de Deus e perdoou de coração o responsável involuntário pela morte de seu esposo. Experimentou o quão efêmera é a felicidade nesta vida.

Desabrochou nela um vivo desejo de ser toda de Deus. Anos antes fizera, juntamente com seu esposo, uma promessa: aquele que sobrevivesse ao outro se consagraria a Deus. Repartiu suas joias e vestidos de gala entre os pobres e a Igreja. A partir de então, se constitui “mãe de todos os pobres”. Acompanhada pelos filhos, visitava os enfermos em suas próprias casas, levava-lhes alimentos, remédios, e ela mesma limpava e curava suas chagas e as beijava, vendo a Nosso Senhor em cada um deles. Fazia estas obras de caridade com tanto esmero e carinho que todos diziam: “Que bom é estar doente, para receber a visita da santa baronesa!”

No outono de 1602, o sogro de Joana forçou-a a viver em seu castelo de Monthelon, ameaçando-a deserdar seus filhos se se recusasse. Ela passou uns sete anos sob sua errática e dominante custódia, aguentando maus tratos e humilhações.

Joana Francisca sentia uma sede ardente do infinito e pedia insistentemente ao Céu um guia espiritual que lhe mostrasse a vontade de Deus. Ouvia em seu íntimo a voz que lhe diz: “Eu te darei esse guia”.

Na quaresma de 1604, Joana estava na casa de seu pai em Dijon. O Bispo Francisco de Sales foi àquela cidade para fazer a pregação da Quaresma. Ambos se reconhecem sem nunca se haverem visto e desde o primeiro momento se compreendem. Ela se colocou sob sua direção espiritual. Começou uma rica correspondência entre os dois: são alguns dos mais belos escritos que existem e refletem a profunda amizade vivida entre os santos.

No dia 4 de junho de 1607, Francisco de Sales lhe revelou o desígnio que Deus lhe havia inspirado de fundar uma nova Congregação, e ela acolheu o projeto muito feliz e com perfeita obediência.

Em 1609, sua filha mais velha, Maria Amada, se casava, e no ano seguinte sua filha caçula falecia. Francisca continuou sua educação por algum tempo sob a direção da mãe e Celso Benigno foi entregue aos cuidados do avô materno.

São Francisco de Sales entrega as Constituições

Chegou o momento da partida para iniciar a vida religiosa, em Annecy, Savóia. No dia 6 de junho de 1610, Domingo da Santíssima Trindade, Joana Francisca de Chantal, acompanhada por Joana Carlota de Brechard, Jaquelina Favre e Ana Jaquelina Costa, entrou na pequena Casa da Galeria, onde receberam a bênção do Bispo Francisco de Sales, juntamente com as Constituições religiosas que ele mesmo redigira. Nesta Casa residiriam durante alguns anos até se transferirem definitivamente em 1613 para o primeiro Mosteiro da Visitação nesta mesma cidade.

Joana Francisca sofreu sucessivamente a perda dos parentes que lhe eram mais queridos. A estas dolorosas partidas se unem enfermidades, críticas e perseguições de todo o tipo. Tudo ela recebia e abraçava com espírito de fé, vendo em tudo a vontade de Deus. É admirável em seu ardente amor a Deus. Amor forte, generoso e provado, que a faz dizer: “Saborear a suavidade de Deus, não é amor sólido; mas humilhar-se, sofrer e morrer a si mesmo, este é verdadeiro amor”.

Em 1632, profundamente tocada pelo amor divino, partilhou com as Irmãs sua experiência acerca de um martírio que chamou de Martírio de Amor, explicando-lhes textualmente: “... Deus, sustentando a vida de seus servidores e servidoras para fazê-los trabalhar para a sua glória, os torna mártires e confessores ao mesmo tempo (...). É que o Divino amor faz passar sua espada pelas partes mais secretas e íntimas de nossas almas, e nos separa de nós mesmas. Eu conheço uma alma a quem o amor separou das coisas que lhe eram mais caras, de tal modo, como se tiranos houvessem separado seu corpo de sua alma, esquartejando-o com suas espadas”. As Irmãs entenderam que Joana Francisca falava de si mesma.

Diferentemente de Santa Teresa d’ Ávila e de outros santos, Joana não escreveu suas exortações, conferências e instruções, elas foram anotadas e entregues à posteridade graças a muitas monjas fieis e admiradoras de sua Ordem.

Tendo vivido em profunda humildade, gozou de paz e serenidade constantes. Ao falecer, em 13 de dezembro de 1641, às vésperas de seus 70 anos de idade, deixou fundados 87 Mosteiros.

Em 1751 foi beatificada pelo Papa Bento XIV e em 16 de julho de 1767, canonizada por Clemente XIII.

Seu coração permanece incorrupto no Mosteiro da Visitação, na cidade de Nevers, França.


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