domingo, 16 de junho de 2013

Contemplação e Meditação


"Todos os dias torno-me no que sou." A citação é de Robert Thurman, o eminente erudito budista da Universidade de Colúmbia, e para mim é um pensamento revigorante.

Adoro o conceito de processo e fluxo que ele implica.

Todos os dias somos novos. Os nossos pensamentos, as nossas intenções e ações, a nossa consciência e percepções estão em constante evolução e com cada mudança emerge um nós diferente. Não somos a mesma pessoa que éramos há cinco anos nem mesmo há cinco minutos. E nem o são os nossos entes queridos, os nossos amigos ou os nossos conhecidos. Um dos resultados é que muitas vezes reagimos à pessoa antiga - e ela reage a nós - como a conhecíamos outrora, por isso, por exemplo, o rufia do liceu continua a ser um rufia para nós quando o voltamos a ver, mesmo que ele possa ter encontrado paz espiritual e seja um homem com um comportamento mais pacífico. Portanto a evolução não serve de muito se não estivermos conscientes dela.

Como podemos amadurecer se não virmos o processo em funcionamento? Como podemos aprender com a vida se não pararmos para a vivermos? Como podemos incorporar tudo o que nos aconteceu física e psicologicamente se não dermos tempo ao corpo e à mente para o ingerir? Como podemos mudar à medida que os nossos amigos e entes queridos mudam?

A maneira de acedermos a nós próprios e aos outros é através da contemplação espiritual relaxada e da meditação, e a altura de começar é no presente. Há uma diferença entre contemplação e meditação, embora estejam relacionadas. A contemplação significa concentrar-se num assunto ou objeto específico - a ideia da bondade caridosa, por exemplo, ou a beleza de uma borboleta. A meditação requer que se mantenha a mente completamente vazia, num estado de atenção ou alerta, livre para aceitar todos os sentimentos, ideias, imagens ou visões que entrem, e deixando a associação fluir para todos os aspectos do objeto ou pensamento - para compreender a sua forma, aspecto, cor, essência. É a arte de observar sem pensamento, sem comentário mental.

É muito mais fácil para a mente ocidental praticar a contemplação. Estamos habituados a concentrar o cérebro num dado assunto, a pensar nele e a analisá-lo. A meditação é um conceito mais oriental, difícil de apreender e requerendo muita prática.

Demora meses ou anos até se conseguir meditar com toda a mente, e pode-se não se ser capaz de a dominar completamente numa única vida. Isso não quer dizer, contudo, que não deva tentar meditar agora. (Lembre-se: Nesta vida, como em todas as outras, você está a progredir conscientemente em direção à imortalidade.) A própria tentativa traz as suas recompensas profundas, e em breve irá dar consigo a ansiar pelo tempo de isolamento que a meditação requer.

Você pode querer começar pela contemplação, e o objeto em que tem de concentrar-se é em si mesmo. Para descobrir quem é agora, pense em si neste momento. Deixe todos os pensamentos que tenha sobre si mesmo, bons ou maus, entrarem na sua consciência. Que imagens e pensamentos negativos ou preconceituosos descartaria como já não sendo exatos ou válidos? Que impressões e sentimentos positivos e autocurativos acrescentaria agora? Que experiências de vida o moldaram mais profundamente?

Quando tiver outra vida, o que é que imagina que irá mudar em relação a esta? A ideia não é "gostar" de si próprio, nem, na verdade, avaliar-se. Você está a tentar ver o que está realmente lá por baixo da camuflagem da pessoa que mostra ao mundo.

Considere as pessoas significativas da sua vida. As suas imagens delas estão desatualizadas? A sua própria experiência ensinou-o a olhar para elas de maneira diferente?

Como é que elas mudaram enquanto você próprio mudou? Como é que estas mudanças o vão levar a modificar a sua relação com elas de uma forma mais positiva, compreensiva e carinhosa? Como é que elas irão facilitar mais mudanças?

Nós somos todos obras em curso, movimentando-nos a velocidades diferentes ao longo dos nossos caminhos espirituais. Mas todos os dias devíamos fazer uma pausa para envolver a mente criativa nos conceitos fulcrais que podem moldar-nos enquanto humanos desejosos de ascender em direção ao Uno: amor, alegria, paz e Deus.

A contemplação e a meditação não são fáceis, porque, quanto mais longe for interiormente, mais profundamente sentido será o seu entendimento, e ir fundo requer cavar através de camadas de defesas. Estamos tão disciplinados no sentido de pensar e analisar que as tentativas para limpar ou esvaziar a mente desafiam a nossa formação.

Todavia, a análise é contrária à contemplação e à meditação, e nós temos de largá-la quando começamos a explorar. Não é suficiente dizer a si mesmo: "Estou a livrar a minha mente de todas as coisas exceto da noção de bondade caridosa" ou, indo mais longe, "Estou a livrar a minha mente de todos os pensamentos e estou consciente de nada e de tudo ao mesmo tempo". Em ambos os casos, vai dar consigo distraído pelo mundo exterior. Pode ser capaz de pensar sobre a bondade caridosa por momentos, mas aposto que em breve irá lembrar-se de uma época em que não foi bom ou em que alguém não foi bom consigo, e daí pode vir o pensamento: "Meu Deus! Hoje a minha mãe faz anos e eu esqueci-me de lhe telefonar", ou outra qualquer ideia que o sacuda de volta para os assuntos do dia-a-dia. E se tentar limpar completamente a sua mente, quase de certeza que vai dar por ela a encher-se de distrações mundanas: uma comichão no nariz, ou uma mosca no seu quarto, ou a sensação de que se ficar sentado muito mais tempo vai perder a reposição do Seinfeld.

Esta discussão é principalmente sobre meditação, mas muito do que se segue é também aplicável à contemplação.

A meditação acalma o ruído que normalmente enche as nossas mentes, e a calma resultante permite-nos observar sem julgar, atingir um nível mais elevado de distanciamento e, eventualmente, tornarmo-nos cientes de um estado mais elevado de consciência.

Um exercício simples pode mostrar como é difícil manter a sua mente desprovida de pensamentos, sentimentos, listas de coisas para fazer, desconfortos físicos, preocupações do dia-a-dia, preocupações domésticas ou profissionais.


Brian Weiss

Do livro “Muitos Corpos, Uma só Alma”, de Brian Weiss.

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