sexta-feira, 7 de junho de 2013

Entrevista com Brian Weiss - Pioneiro da Terapia de Vidas Passadas



O Dr. Brian Weiss é médico diplomado pela Universidade de Yale, com especialização em Psiquiatria na Universidade de Columbia. Foi professor de Medicina em várias faculdades americanas e publicou mais de quarenta ensaios científicos nas áreas de psicofarmacologia, química cerebral, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, distúrbios causados pelo abuso de drogas e mal de Alzheimer.

Diretor emérito do Departamento de Psiquiatria do Mount Sinai Hospital, em Miami, Dr. Weiss viaja constantemente para promover palestras e workshops sobre seu trabalho. Contribui para diversas publicações acadêmicas, jornais e revistas, como The Boston Globe, The Miami Herald, The Chicago Tribune e The Philadelphia Inquirer, entre outros.

Além disso, ele é diretor de uma clínica particular em Miami que conta com psicólogos e assistentes sociais altamente capacitados e treinados para aplicar a Terapia de Vidas Passadas (TVP).

Dr. Weiss foi responsável pela popularização da TVP, embora ela já fosse utilizada por alguns psicanalistas na tentativa de curar pacientes com problemas psicológicos mais graves. A publicação do livro Muitas Vidas, Muitos Mestres foi decisiva para este processo.

Há 15 anos, o psiquiatra americano Brian Weiss começou a tratar uma paciente que mudaria o rumo de seu trabalho. Formado pela Universidade de Yale, com especialização na Universidade de Columbia, em Nova York, Weiss trabalhava com psicanálise e usava o método da hipnose com seus clientes. Durante uma sessão, Catherine, uma mulher perturbada e deprimida, pulou da infância para uma vida passada. A história foi relatada no livro Muitas vidas, muitos mestres, publicado no Brasil pela Editora Salamandra. O episódio aconteceu a quatro paredes, no consultório de Weiss, em Miami. O médico ainda resistia em acreditar na regressão de Catherine, até que ela relatou a morte do filho dele, com detalhes que só o psiquiatra e sua mulher conheciam. "Parece que esse tipo de informação veio para provar que a Catherine dizia a verdade. Até então eu era absolutamente cético", conta Weiss. Depois de Catherine, Weiss, com 51 anos neste corpo, passou a trabalhar com a terapia de vidas passadas, técnica que divulga por todo o mundo. O psiquiatra afirma que tratou mais de 1,3 mil pacientes e os resultados são surpreendentes. Ele esteve no Brasil para uma série de palestras em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e também para autografar seu segundo título, Só o amor é real. O livro, sucesso editorial no Brasil com mais de 100 mil exemplares vendidos, conta a história de outros dois pacientes, Elizabeth e Pedro, duas almas gêmeas que se encontram nesta vida após relembrarem muitas outras passagens de amor.

ISTOÉ - Como o Sr. começou com a terapia de vidas passadas?
Brian Weiss - Eu não acreditava neste tipo de trabalho, mas a história de Catherine me fez mudar de ideia. Ela é a personagem principal do livro Muitas vidas, muitos mestres. Eu era catedrático de psiquiatria do Hospital Mount Sinai, em Miami, quando a conheci, em 1981, e ela se tornou minha paciente. Comecei a tratá-la por meio da hipnose para que ela se lembrasse de fases da infância. Ela primeiro resistiu, porque estava com medo de se entregar inteiramente e perder o controle da situação. Mas na hipnose isso não acontece. Enfim, ela aceitou o tratamento e passou a se lembrar de traumas e problemas acontecidos na infância. No entanto, os sintomas não desapareciam. Até que um dia eu pedi a ela que regredisse, que voltasse à época em que os sintomas começaram. Eu imaginava que ela fosse voltar para uma idade muito jovem. Em vez disso, Catherine entrou numa outra era.

ISTOÉ - Isso o convenceu da seriedade do método?
Weiss - Não foi só isso. Depois desse episódio eu ainda tive 1,3 mil pacientes com os quais desenvolvi esse trabalho.

ISTOÉ - O Sr. trabalhava com hipnose antes da terapia de vidas passadas?
Weiss - Eu tinha aprendido a técnica da hipnose muitos anos antes, quando estava fazendo a formação médica. Verifiquei que essa técnica era muito útil, pois permitia às pessoas voltarem bem cedo na vida. Mas, até surgir a Catherine, nenhum paciente havia entrado em outras eras.

ISTOÉ - Ela era especial?
Weiss - Sim. E não acho que foi uma coincidência o fato de ela ter regredido, havia um propósito específico. Catherine foi um meio para que eu pudesse tomar contato com a existência dos mestres.

ISTOÉ - Quem são esses mestres?
Weiss - Eu não tenho certeza de quem são eles. Mas são certamente espíritos muito evoluídos e que se dirigiram a mim através da Catherine.

ISTOÉ - O Sr. passou a acreditar mais no que Catherine dizia quando ela relatou a morte de seu filho?
Weiss - Ela não sabia absolutamente nada a respeito. No consultório não havia nenhuma referência, como fotografias, por exemplo, dessa criança que morreu com poucos dias de vida. E ela relatou com detalhes como tudo aconteceu. Parece que esse tipo de informação veio para provar que a Catherine dizia a verdade. Até então eu era absolutamente cético.

ISTOÉ - Depois que se convenceu da história de Catherine, o Sr. passou a estudar esse tipo de terapia?
Weiss - Comecei a me interessar, fui a bibliotecas, procurei livros a respeito. Mas existia muito pouca coisa séria e científica sobre o assunto. De 1981 para cá, isso mudou muito. Mesmo a crença das pessoas passou a ser mais forte. Uma pesquisa recente do Instituto Gallup mostrou que nos Estados Unidos 27% da população acredita em vidas passadas. E aqui no Brasil, um país essencialmente espiritualizado, existem pelo menos três entidades que trabalham com terapia de regressão.

ISTOÉ - Que sintomas de Catherine foram curados?
Weiss - Catherine tinha problemas de fobias e de depressão. Um dos sintomas dela era uma sensação de estar se afogando. E ela se curou totalmente quando lembrou o que ocorreu na outra vida. Ela era um garoto que morreu afogado.

ISTOÉ - Por que ao se lembrar do trauma a pessoa se cura?
Weiss - Esse processo é tipicamente psicanalítico. Freud defendeu que a partir do momento em que a pessoa se confronta com um trauma muito forte ela faz uma catarse. E por meio dessa catarse ela encontra cura para estes sintomas. No fundo a técnica de regressão não é tão diferente da psicanálise. Só é mais ampla porque entra em outros tempos, com mais possibilidades de encontrar as causas para os traumas.

ISTOÉ - Uma pessoa que não tem a oportunidade de fazer a terapia de regressão está fadada a voltar sempre com sintomas ruins?
Weiss - Não. Existem outras formas de curar um trauma. A terapia de regressão talvez seja o jeito mais rápido. Mas outros tipos de terapia, como a psicanálise, ajudam. O importante é entender o trauma. Aceitá-lo. Não fugir e acreditar que aquele sentimento não passa de imaginação. Temos de aprender a ouvir nosso corpo e nossa mente. Muitas vezes temos lembranças importantes nos sonhos ou mesmo em lugares. Quantas vezes não temos a sensação de déjà vu e não nos damos conta de que aquilo é uma lembrança? Entender esses sinais é também uma maneira de solucionar o trauma.

ISTOÉ - Qual a diferença entre a terapia de vidas passadas e o espiritualismo?
Weiss - A terapia de vidas passadas, como o nome diz, é uma terapia, não uma religião. Na terapia, os especialistas se atêm a fatos e à observação. Há um cunho científico no processo. E isso se constata muitas vezes porque na terapia pessoas com grandes traumas e aflições encontram nas regressões um contato com uma forma de amor. Isso é uma maneira de curar. As religiões, sobretudo as avançadas, também encontram no amor uma forma de realização espiritual. Então existe esta coincidência, ou esta superposição.

ISTOÉ - O título de seu segundo livro é Só o amor é real. O Sr. afirma isso em alguns capítulos. O resto seria então uma ilusão?
Weiss - O amor é a principal forma de energia da qual decorrem todas as outras. É a partir dele que tudo é criado. Nós não somos o nosso corpo, somos basicamente uma energia que permanece, que dura mesmo depois da morte. Essa energia é muito mais forte do que nós, é consciência, é a mente.

ISTOÉ - Carl Jung acreditava em vidas passadas. Mas muitos terapeutas, mesmo adeptos de Jung, resistem a essa teoria. Por quê?
Weiss - Isso está mudando. Muitos psicanalistas começam a perceber que existe uma realidade atrás dessa técnica nova. Alguns estão experimentando o método e constatando que há muita semelhança entre o processo psicanalítico e o método da terapia de regressão. Ambos procuram fazer uma confrontação e mesmo a lembrança de determinadas vivências que podem ser também expressas como fantasias, como coisas simbólicas, que podem ser trabalhadas dentro do processo psicanalítico. Só resistem aqueles que não conhecem o método.

ISTOÉ - Quer dizer que uma fantasia também pode ajudar a curar os sintomas?
Weiss - Não. Elas podem ser trabalhadas no contexto terapêutico. São uma ferramenta para o especialista, assim como os sonhos. Mas somente a lembrança real é capaz de curar por si só. Com Catherine eu percebi isso de maneira muito clara. Os sintomas eram concretos, reais. Numa fantasia você não tem um envolvimento emocional tão profundo e nem um processo de catarse. Com a regressão, há confrontação com o fato. Se bem que às vezes é muito difícil separar fantasia de um fato real. Sobretudo quando se trata de uma vida muito antiga da qual não há dados concretos.

ISTOÉ - Como separar o que é fantasia e o que é verdade?
Weiss - Às vezes é fácil. Não raro, uma pessoa começa a falar fluentemente uma língua que não domina. Ou então quando os pacientes se referem a fatos históricos, detalhes específicos de determinada época, com os quais não têm nenhum conhecimento. Mas no processo terapêutico não se dá tanta importância à realidade absoluta. O importante é trabalhar com o material que o paciente vai trazendo. Como na psicanálise.

ISTOÉ - Quanto tempo pode durar uma terapia de regressão?
Weiss - Semanas. Ou meses. Mas em geral de três a seis meses são suficientes. Eu tenho interesse em que o processo seja reduzido. Tanto que eu forneço aos meus pacientes uma fita cassete para eles levarem para casa. Com isso eles treinam relaxamento e meditação, que vão facilitar muito o trabalho no consultório.

ISTOÉ - Para quem é indicada a terapia de vidas passadas?
Weiss - Normalmente não uso este tipo de terapia com psicóticos ou pessoas que têm problemas cerebrais, como mal de Alzheimer. São pessoas que não têm capacidade de concentração, então o processo fica muito difícil. De um modo geral, fora essas exceções, normalmente faço a terapia com qualquer outro tipo de caso. No começo eu só tratava de pessoas com sintomas graves. Mas depois ampliei o campo por perceber que todo mundo tem problemas que merecem ser vistos.

ISTOÉ - Na filosofia espiritualista, ao passar de uma vida para outra a pessoa passa por um aprendizado, uma limpeza. Por que ainda assim as almas voltam carregadas de traumas?
Weiss - Eu acredito que a vida, aqui na Terra, é como se fosse um enorme campo de provas. Aprendemos com a lição dos mestres, mas é aqui que vamos provar que de fato trouxemos a lição no coração. E, de qualquer maneira, trazemos marcas antigas, os nossos carmas. Isso faz parte do nosso processo de aprendizado.

ISTOÉ - A pessoa tem de aprender com o trauma?
Weiss - Sim. Por isso pergunto sempre aos pacientes: "O que você aprendeu com isso?" Uma vez que você aprende você é curado. E mais: nem sempre da primeira vez é suficiente para se incorporar este conhecimento profundamente no coração. Então muitas vezes você vai ter de passar por mais de um processo.

ISTOÉ - As pessoas que estão na Terra são todas almas velhas?
Weiss - Não posso afirmar com certeza se existem almas virgens. Mas acho que a Terra é um dos estágios de uma escola e muito difícil para almas novas. Acredito que existam outras dimensões e muitas almas vêm de lá. Aqui é mais um lugar para se aprender.

ISTOÉ - O Sr. acredita em vida em outros planetas?
Weiss - Sim. Mas essas dimensões podem ser planetas que não enxergamos. Uma dimensão diferente da nossa.

ISTOÉ - Durante a terapia todo mundo pode ver os fatos das vidas passadas?
Weiss - Isso varia muito de pessoa para pessoa. Alguns quando estão no processo profundo de transe conseguem ver ou só ouvir. Outros sentem determinadas situações e alguns conseguem perceber tudo de uma vez só.

ISTOÉ - Nessa terapia o Sr. se depara com pacientes carregados de culpa, como acontece nas terapias tradicionais?
Weiss - Sem dúvida. E a culpa a rigor é uma emoção absolutamente inútil, que só provoca desgaste. A culpa na verdade nos é ensinada através das religiões, que usam isso para controle. Em especial as religiões ocidentais nos ensinam culpa. As verdadeiras religiões espiritualistas ensinam o amor e não a culpa.

ISTOÉ - O Sr. segue alguma religião?
Weiss - Nasci judeu nesta vida. E me interesso, particularmente, pela cabala.

ISTOÉ - O Sr. se viu em vidas passadas?
Weiss - Eu tive algumas experiências com regressão, com ajuda de minha mulher, Carol, que também é terapeuta. Nessas regressões, descobri que já fui, entre outras coisas, padre católico e monge budista. É por esse motivo que acredito que não devemos ter preconceito contra nenhuma religião nem contra nenhuma pessoa.

ISTOÉ – Nessas terapias, mães, pais e irmãos aparecem em outras vidas como maridos e namorados. As pessoas lidam bem com isso?
Weiss – Reconhecer pessoas no passado ou no futuro é muito comum. Nós trocamos de corpo, de país, de religião para aprender sobre todos os lados. É o propósito da vida. O que sentimos é amor, não há nada de incestuoso, de negativo. As pessoas estão conectadas, viajam juntas para aprender.

ISTOÉ – Qual o intervalo entre vidas?
Weiss – Pode ser de uma semana ou de um século, depende da necessidade. Pessoas que morrem violentamente costumam voltar logo porque as lições continuam lá. Eu morri em 1942 ou 1943 na Tchecoslováquia e nasci em 1944. Na Suécia, um médico pesquisou pessoas que na regressão se viram como vítimas na Segunda Guerra. Elas lembraram de nomes e números tatuados em seus braços que bateram com os registros de guerra. Quando me viu, ele me disse, chocado: "Eu morri com você". Ele me reconheceu.

ISTOÉ – Por que esquecemos das vidas passadas?
Weiss – Várias culturas acreditam que esquecer é uma forma de proteção. Acho que cada vida é um novo teste para saber se o aprendizado já faz parte de nossa natureza, se está no coração e não só na mente. A Terra é a escola, onde temos que aprender a não-violência, a compaixão, a paciência, a amorosidade.

ISTOÉ – Podemos acertar numa vida e errar numa posterior?
Weiss – Temos o livre-arbítrio e o destino, os dois coexistem. O destino é o plano para uma existência, mas o livre-arbítrio lhe permite escolher o que quer fazer. Por exemplo, há planos de você viver com uma pessoa, você decide não cumpri-los. Pode ter uma vida produtiva, mas, se naquele compromisso falhou, procurará outra oportunidade para cumpri-lo. O importante é que nunca morremos e progredimos sempre.


Entrevista parcial concedida à revista IstoÉ

Nenhum comentário:

^