quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Atuação conjunta pelo Movimento Espírita


Antonio Cesar Perri de Carvalho, presidente da FEB, de forma interina desde maio de 2012 e efetivo a partir de março de 2013, foi entrevistado por Jorge Hessen para mídia eletrônica. Numa síntese, transcrevemos algumas questões relacionadas com o Movimento Espírita.

Jorge Hessen: Quais os grandes desafios vistos para o Movimento Espírita brasileiro?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: Estamos vivendo vários desafios. A ideia de difundir o Espiritismo, na sua pureza, é um grande desafio, pois, conforme as várias orientações de Allan Kardec, sempre haveria alguma tendência natural de se valorizar pessoas, de se personalizar, e com isso, o que assistimos é que há uma diferença entre a proposta de Kardec e algumas práticas. Por exemplo, na Apresentação de O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec esclarece que, a pedido da maioria dos médiuns, não os nomeou junto às mensagens, colocando apenas o nome dos Espíritos, a cidade e a data. Para o Codificador era mais importante o conteúdo das mensagens do que o nome do médium. Infelizmente, notamos que hoje em dia muitas pessoas, antes de ler o texto, querem saber primeiro quem é o médium, ou seja, inverte-se a situação.

Urge buscar, acima de tudo, a coerência doutrinária e maior compatibilidade com a base da Codificação em vez de ficarmos exaltando ou levantando fileiras em torno de médiuns A, B, C ou D, ou seja, temos que somar, independentemente de quem seja o médium, desde que a mensagem tenha coerência e esteja fundamentada nas obras de Kardec: esse é o grande desafio.

Jorge Hessen: Os princípios institucionalizados da Unificação inibem o ideário da união espontânea entre os espíritas?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: A rigor, não. Em 1949, foi definido através do Pacto Áureo um itinerário de ação, dando origem ao CFN – Conselho Federativo Nacional –, que é composto pelas Entidades Federativas Estaduais com base na obra de Allan Kardec.Hoje em dia, dentro do contexto da ideia de união e de unificação, podemos perfeitamente estabelecer propostas de união e de parceria entre várias instituições, somando esforços; portanto não há necessidade, desde que haja propósitos comuns, de ficarmos na dependência de conceitos antigos de controles. Essa é a ideia.

Jorge Hessen: O modelo federativo foi idealizado por mentes superiores, não temos dúvidas. O crescimento do Espiritismo gera distorções e perda na qualidade da mensagem e da prática espírita – é fato – fenômeno sociologicamente explicável. Boa parte dos dirigentes de casas espíritas nem sempre valorizam as ações dos órgãos de Unificação, atribuindo-lhes caráter meramente administrativo, burocrático, com pouco sentido prático. Considerando a sua larga experiência doutrinária, como fundador de mocidade espírita, conselheiro e presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba, membro fundador de Centro Espírita, diretor e presidente da USE-SP (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo) e, por fim, presidente da Federação Espírita Brasileira, quais as ações que pretende desenvolver para aproximar a FEB das casas espíritas?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: Vou me reportar à minha primeira experiência. Quando era muito jovem, assumi a presidência da União Municipal Espírita de Araçatuba (Umea) – órgão da USE-São Paulo. Naquele momento, lutei contra essas dificuldades, porque o Movimento de Unificação era recente, tinha apenas 20 anos (pós-Pacto Áureo). Nessas condições, havia certa confusão entre as lideranças espíritas, sobretudo de qual seria a função do órgão unificador.

Alguns tinham receio de que seria um órgão controlador ou fiscalizador. Por outro lado, havia muitas pessoas (jovens) no Movimento de Unificação que também pensavam assim, o que gerava muitos conflitos. As reuniões eram simplesmente administrativas; então, quando assumimos a presidência da Umea, dentro desse contexto, tornamos as reuniões minimamente administrativas e preponderantemente voltadas para diálogos, para as propostas de ação, juntando esforços, de tal modo que conseguimos descentralizar, fazendo as reuniões em rodízios pelos centros espíritas da cidade. Aproveitamos as experiências para que elas se tornassem coletivas.

Essa a ideia que, guardadas as devidas dimensões, ainda seguimos, embora atualmente exista uma abrangência gigantesca e um grau de complexidade muito maior, mas mantivemos essa postura para tornar mais dinâmicas as reuniões do CFN. Por exemplo, conseguimos suprimir a leitura de relatórios, e hoje as Federativas encaminham um relatório por meio de formulário eletrônico, que é transferido para DVD e distribuído. Desse modo, utilizamos a reunião para discutir planos de ação e, assim, avaliarmos situações que merecem ser debatidas para o desenvolvimento espírita. Entendemos que esse seja o melhor caminho.

Jorge Hessen: Proliferam no mercado editorial e nos meios de comunicação, em especial a Internet, obras ditas espíritas, de valor duvidoso, quando não atentatórias aos postulados doutrinários. Como a FEB, Casa Mater do Espiritismo, encara essa realidade e como pretende atuar no bom combate?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: A FEB vive um problema, digamos, muito complexo, pois há obras bastante duvidosas e muito divulgadas no meio espírita. Se de um lado a FEB apontar os deslizes doutrinários, vão dizer que a Instituição vai passar ideias do Index Librorum Prohibitorum. Até mesmo na Internet surgem informações afirmando que a FEB fez essa proibição, o que não é verdade. Então, o procedimento que adotamos é o seguinte: evitamos, como Instituição, fazer críticas a qualquer obra, mas sugerimos a leitura das boas obras já consagradas, razão pela qual estamos difundindo cada vez mais a ideia de quão necessária é a leitura das obras de Kardec. Recentemente, foi aprovada a inserção de uma antiga campanha da USE “Comece pelo Começo”, ou seja, comece pelas obras de Kardec. Nós vamos introduzi-la também na FEB, junto a vários cursos, inclusive o Esde. Optamos por esse caminho para fazer a divulgação da Doutrina Espírita.

Jorge Hessen: Numa sociedade mercadológica/ mercantil em que eventos espíritas pagos em geral se apresentam em números cada vez maiores, qual deve ser a postura da FEB?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: Estamos ultimamente bastante preocupados com isso, inclusive decidimos, por exemplo, que o 4º Congresso Espírita Brasileiro não seja realizado em Brasília, porque o custo da realização de um Congresso Brasileiro em Brasília é muito alto.

Realizaremos quatro congressos simultâneos e, pela estimativa que temos, quatro eventos terão um dispêndio financeiro menor comparado a um só realizado em Brasília; então a questão aí é clara: temos que pensar na simplificação, excluir qualquer ostentação e aplicar os recursos ao mínimo necessário.

Qual o cenário atual? Infelizmente, ainda não temos uma maneira adequada de angariar recursos ou forma de investimento de quem participa; porém, o que almejamos é minimizar os gastos. O procedimento que vamos adotar no 4o Congresso Espírita Brasileiro seguirá os moldes de uma experiência vivida em São Paulo, considerando os atuais congressos espíritas paulistas.

O inscrito, quando paga a taxa de participação, está simultaneamente comprando um “vale-livros”.

Dessa forma, com o valor do vale, ele vai retirar na livraria do Congresso aquele valor em livros. Então, ficará por conta das editoras trabalhar também com um custo baixo para que as pessoas se beneficiem com o Congresso e com a obra, levando ainda um livro ou mais de um livro.

Jorge Hessen: Com o advento dos tablet’s, PDA’s, leitores digitais e o grandioso espaço que a Internet propicia – vislumbrando um futuro próximo em que as novas gerações deixarão o papel de lado –, não seria oportuno a FEB estabelecer um programa permanente de disponibilização de novos livros e obras espíritas para download, a preços módicos, em seu site, instituindo até mesmo uma nova fonte de renda?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: Começamos no segundo semestre de 2012 a disponibilizar para download livre, na Internet, as antigas apostilas da FEB e as obras da Codificação. O que está sendo estudado pela FEB Editora hoje é disponibilizar para download, por um preço acessível e com um selo de garantia da FEB, os demais livros.

O que está ocorrendo? Há uma constatação de que quase todos os livros espíritas que estão disponíveis na Internet para downloads não são autorizados. Já verificamos também livros da FEB disponíveis para download com várias incorreções: incompletos, parágrafos e capítulos suprimidos, ou seja, a pessoa que acessa essas obras está sujeita a ser enganada. Desta forma, o único caminho hoje, e não adianta discutirmos, é disponibilizá-los para download com preço acessível e o selo febiano de garantia.

Jorge Hessen: Será que livros gratuitos na Internet gerariam impacto financeiro, em se tratando de uma prática comum atualmente? Será que os livros virtuais não dariam maior visibilidade ao Portal da FEB, ou seja, não tornaria o site uma robusta ferramenta de divulgação da Nova Luz para o mundo?

Antonio Cesar Perri de Carvalho: Considerando os livros virtuais, bem como as assinaturas de revistas, a FEB já disponibiliza a assinatura digital de Reformador. A pessoa interessada pode escolher entre a assinatura digital e a assinatura digital e impressa. No caso dos livros, é o caminho do futuro, e pelas tendências do mercado, isso não inviabiliza a impressão. Fica às vezes muito complicado termos um livro, por exemplo, para ser lido ou acessado pelo tablet. Dificilmente o livro está completo, inteiro e disponível o tempo todo para o leitor, além de ficar cara a impressão doméstica. É muito comum as pessoas se utilizarem do livro digital para pesquisa rápida, mas, ainda querem saborear o livro impresso também, por isso creio que é um mercado novo no Brasil, enquanto nos EUA ele é muito desenvolvido. Entendo que a vida virtual é o presente e o futuro, e que nós temos que passar por uma transição.

Jorge Hessen: Suas palavras finais.

Antonio Cesar Perri de Carvalho: As nossas palavras finais são de sugestão aos espíritas para que aproveitemos o momento que estamos vivendo, que é o período, segundo Emmanuel, de aferição de valores, bastante delicado e sensível, pois todos temos compromissos individuais e coletivos; e com relação ao Movimento Espírita, é muito importante lembrar que o nosso trabalho deve ser respaldado na união, na concórdia e na benevolência recíproca. Isso é que deve animar a nossa atuação conjunta no Movimento Espírita e no relacionamento com a própria sociedade.


Entrevista e Imagem (foto) de Antonio Cesar Perri de Carvalho da Revista Reformador, Agosto de 2013

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