sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Lei de Reprodução


Ao tratar das Leis Morais, em O Livro dos Espíritos, Kardec inicia o estudo da Lei da Reprodução (questões 686 a 694), indagando dos Espíritos superiores sobre a “População do globo”, “Sucessão e aperfeiçoamento das raças” e “Obstáculos à reprodução”.

A reprodução é uma Lei Natural imprescindível. Destinando-se à perpetuação das espécies, sem ela o mundo corporal não se sustentaria. Se do ponto de vista biológico, o objetivo da reprodução é a procriação de novos indivíduos, do ponto de vista espiritual, a reprodução é a Lei Moral que viabiliza a reencarnação dos seres, para que estes progridam. Por isso, em regra, a encarnação é uma condição “inerente à inferioridade do Espírito”. A reprodução aplica-se apenas aos seres encarnados, porque “os Espíritos [princípio inteligente] não têm sexo [e] não se reproduzem”. A esse respeito, nunca é demais recordar as lições inesquecíveis do Codificador, Allan Kardec (1804-1869), inspiradas nos ensinos dos Espíritos superiores:

A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal, do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo, para se desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria bruta. O corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta; ao contrário, sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. [...]

O fluxo migratório entre os dois mundos – o espiritual e o físico – é constante. Diariamente, ocorrem a desencarnação e a reencarnação de milhares de criaturas. A questão demográfica tem sido colocada na pauta de muitas organizações internacionais, pois existe a preocupação, que é antiga, de que o excesso de população da Terra poderia trazer um colapso ecológico-social, em virtude da saturação do meio ambiente. Entretanto, Deus, em sua suprema sabedoria, nunca desguarneceu a Humanidade dos recursos necessários para vencer os seus desafios.

Thomas Malthus, economista britânico (1766-1834), baseando- -se em cálculos matemáticos, previu um futuro aterrador para a Humanidade, pois, segundo seus ensaios, publicados em 1798, dentro dos 100 anos seguintes (até 1898, portanto), se exauririam os recursos de subsistência aos habitantes do Planeta, visto que a população estaria aumentando numa proporção muito maior do que a produção dos alimentos.

Felizmente, por uma série de fatores, entre os quais as inovações tecnológicas aplicadas na produção agrícola e industrial, não se consumou a catástrofe prevista, pelo menos dentro do período anunciado pelo economista, e há motivos para se acreditar que também não ocorrerá no futuro, uma vez que o surgimento e a evolução dos seres vivos obedecem a um Planejamento Superior, como se infere da Providência, que é “a solicitude de Deus para com as suas criaturas”, a qual atua por meio das “leis gerais do Universo”. A propósito, Michael Behe, professor-adjunto de Bioquímica da Universidade de Lehigh, Pensilvânia, EUA, levantou a hipótese da existência de um “Planejamento Inteligente” na evolução dos seres vivos, deduzida a partir da análise de dados científicos, que encontra ressonância no ensino dos Espíritos superiores.

Admitindo, como admitimos, a existência de uma Providência Divina perfeita em seus princípios, parece lógico a nós outros que o desenvolvimento das coisas ocorre dentro desse Plano Diretor Maior, traçado com antecedência de bilhões de anos, que escapam às nossas acanhadas noções de tempo, em que estão previstas todas as variáveis decorrentes da geração e reprodução dos seres vivos e de sua própria imortalidade, tais como o aumento de população, a produção de alimentos, as guerras, as agressões à Natureza, enfim, todos os fatores oriundos do uso devido ou indevido do livre-arbítrio, tudo conspirando a favor da emancipação do Espírito imortal.

Isso não quer dizer que a Humanidade esteja indene dos erros cometidos, uma vez que a dor é a mestra do aprendizado a infundir responsabilidade por seus atos, com escopo educacional e reeducacional.

As leis divinas são sábias e perfeitas, uma vez que, provendo os Espíritos de faculdades cocriadoras, possuem mecanismos para encaminhar a solução natural desses problemas por meio dos próprios seres inteligentes, sob o crivo da lei de causa e efeito. De fato, as conquistas científicas têm oferecido meios de se controlar, responsavelmente, a natalidade e aumentar a produtividade dos alimentos. Se há miséria e agressões ao meio ambiente, elas se devem mais ao egoísmo humano do que ao crescimento populacional ou à falta de recursos financeiros e tecnológicos.

Os habitantes atuais da Terra não formam uma criação nova, mas, antes, são os mesmos Espíritos, descendentes aperfeiçoados das raças primitivas, que substituíram a força bruta pela utilização do intelecto. Se a população do Globo tem aumentado, é porque a quantidade de habitantes do mundo espiritual é muito superior à de encarnados, e a evolução moral e intelectual dos Espíritos, em obediência ao Planejamento Divino, permite que haja o aumento gradual e tolerável do fluxo de reencarnações. Acresça-se que a jornada evolutiva do Espírito não se dá apenas na Terra, mas também em outros planetas e que há um intercâmbio incessante entre os mundos, de modo que, enquanto uns estão imigrando para o nosso orbe, outros estão emigrando para mundos diferentes, conforme tenham estacionado ou ascendido em seu progresso.

Os Espíritos superiores esclarecem que os avanços científicos não são contrários à Lei Natural, entre eles o aperfeiçoamento das raças animais e dos vegetais, porquanto “tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus propósitos”, pois, “sendo a perfeição o objetivo para o qual tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder aos desígnios de Deus”.

Desde que respeite o semelhante e não abuse do poder que tem sobre os demais seres vivos, é lícito ao homem regular a reprodução de acordo com as necessidades e os princípios éticos, caso em que estará utilizando a inteligência como um contrapeso instituído por Deus para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza. Quando entrava a reprodução, desnecessariamente ou com vistas apenas à satisfação da sensualidade, o homem, demonstrando a predominância de sua natureza animal, adia as nobres realizações da alma, acumulando sofrimentos para o futuro.

Enfim, a reprodução desponta como Lei Moral que possibilita a reencarnação do Espírito, o qual utiliza o corpo físico como veículo da própria evolução intelecto-moral. Daí se compreende a razão pela qual os Espíritos superiores ensinaram que estamos todos de passagem e que tanto o nascimento como a morte são apenas estágios de transformação, confirmando a premissa de que “o corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque o Espírito já existia antes da formação do corpo”.

À medida que o Espírito progride, este necessita de corpos mais aprimorados para continuar ampliando suas faculdades. É por isso que, tendo como intermediário o perispírito e sofrendo a influência do ser pensante, os corpos vão se tornando, à medida que o tempo passa, mais aptos às novas aquisições do princípio inteligente que, na verdade, é o responsável, pelo aperfeiçoamento das espécies.

Quanto mais cresce em conhecimento, mais o Espírito, encarnado ou desencarnado, se torna responsável pelas suas escolhas, sendo, por isso, o artífice de seu próprio futuro, que acontece dentro das balizas do Planejamento Divino para a felicidade de todos, sem esquecimento dos mínimos detalhes.

Se desejamos alcançar maior qualidade de vida, em todos os aspectos, devemos buscar conhecer mais a nossa própria natureza espiritual, o que nos propiciará melhor compreensão das Leis Morais que nos regem, para que possamos, vivendo de acordo com suas diretrizes, construir um mundo feliz para todos.


Christiano Torchi

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