quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Terra



Agradece, cantando, a Terra que te abriga.
Ela é o seio de amor que te acolheu criança,
O berço que te trouxe a primeira esperança,
O campo, o monte, o vale, o solo e a fonte amiga...

Do seu colo desponta a generosa espiga,
Que te farta o celeiro e te rege a abastança,
Dela surge, divino, o lar que te descansa
A mente atribulada entre o sonho e a fadiga.

Louva-lhe a própria dor amarga, escura e vasta,
E exalta-lhe o grilhão que te encadeia e arrasta,
Constringindo-te o peito atormentado e aflito.

Bendize-lhe as lições na carne humilde e santa. . .
A Terra é a Grande Mãe que te ampara e levanta
Das trevas abismais para os sóis do Infinito!...


Amaral Ornelas

Psicografia de Francisco Cândido Xavier

terça-feira, 28 de junho de 2016

Síntese Evolutiva



No princípio é o Cosmo que se agita,
Sem expressão nem forma definida;
A essência prima e bruta revolvida,
Que se agrupa, se adensa e se engranita.

Depois, é o Vegetal, no qual já habita
A primeira eclosão da luz da vida;
É o Animal, a iniciar a lida
De alevantar o Ser que em si palpita.

Depois, é o Homem –equação divina
De consciência, senso e de razão!
O Homem que luta e sofre e se ilumina...

Depois, ainda, é o Rei da Criação:
O Anjo, que aos pés de Deus ora e se inclina
Dominando o Universo... –É a Perfeição!

Hernani T. Sant’anna

domingo, 26 de junho de 2016

A Poesia nosso Cotidiano



Por Altamirando Carneiro

O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Editora Positivo) registra o termo poesia como a arte de escrever em versos; composição poética de pequena extensão; entusiasmo criador; inspiração; aquilo que desperta o sentimento do belo; o que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas; encanto, graça, atrativo; poesia pura: corrente da poesia moderna à expressão de sentimentos individuais e ao material anedótico.

E no livro Cântico dos Cânticos – volume I (Edições CELD), Yvonne A. Pereira explica: “A poesia é uma das mais belas artes que honram a cultura humana. Ela tem servido e exaltado os feitos e as ações mais nobres que os homens têm conseguido realizar.

O Evangelho, a religião, o amor, a caridade, o heroísmo, o civismo, a dor, a virtude, a beleza, a alegria, a natureza, a própria ideia de Deus etc. sempre serviram de temas para a consagração dos verdadeiros poetas, os quais souberam sentir e interpretar as impressões que tais sentimentos produzem na alma humana.

O verdadeiro poeta é um Espírito dotado de sensibilidade superior, sensibilidade desenvolvida, certamente, por dons especiais, através de múltiplas etapas reencarnatórias ou mesmo através de seguidos aprendizados na vida espiritual.

É uma alma cujas vibrações se harmonizam com as vibrações das esferas espirituais superiores, onde a Arte pura mantém o seu domínio”.

A poesia sempre foi uma expressão artística marcante e atravessou o tempo com a sua marca inconfundível. Nos tempos medievais, a maioria dos Senhores Feudais e seus súditos consideravam os artistas, entre eles os poetas, uma classe especial. Os Bardos e suas equipes iam de castelo em castelo, levando aos Senhores Feudais a música instrumental ou cantada e a declamação de poesias.

Tempos depois, não mais nos Feudos e sim nos Reinos mais extensos, os Reis continuaram a patrocinar as artes. Os textos eram escritos em forma de poemas. Os diálogos não eram falados, mas recitados, ou seja, declamados dramaticamente.

Nos nossos tempos, ao produzir essas peças, atores e atrizes devem possuir grande talento para transformar os textos poéticos em linguagem normal.

No Brasil do século 16, o primeiro século da colonização, José de Anchieta escreveu, com seu bastão, 4.072 versos a Maria nas águas de Iperoig, atual Ubatuba (SP).

A poesia brasileira passou por vários períodos: Barroco, Arcadismo, Romantismo, Simbolismo, Modernismo, Pós-Modernismo, Concretismo.

Salve a poesia, que está presente na nossa vida desde o nosso nascimento, quando as mães cantarolam, alegres e esperançosas, uma agradável canção de ninar: “Nana filhinho, do meu coração...”; e segue pela vida nos acompanhando, em todas as expressões de sentimento do nosso viver diário.

Tudo é poesia na Criação Divina. Como diz o escritor Sholem Asch, no capítulo inicial de sua notável obra intitulada Maria, “Repete-se a Gênese do mundo em cada amanhecer, e contemplar a Terra na sua luta para fugir do vazio impenetrável das sombras é presenciar o espetáculo da Criação”. É tudo um hino de amor, pois, sendo Deus amor, é com amor e poesia que Ele imprime a sua marca em toda a Sua obra.

E a poesia segue adiante na obra de Sholem Asch, quando ele diz, no parágrafo seguinte, que “O véu da noite pairava sobre as cristas dos montes, porém, a abóboda celeste em que se espelhava indefinível brilho espalhava em redor a claridade de suas estrelas, emprestando no ar leve transparência. Na límpida escuridão do vale pequeninas casas de aldeolas adormecidas se aninhavam umas contra as outras, protegidas de ambos os lados por frondosos ciprestes e oliveiras. Nos morros, podiam-se distinguir as folhas das plantas estremecerem a uma gota de orvalho, balançando ao sopro de doce aragem como em muda oração e irradiando de si o brilho com que as aquinhoaram as primeiras horas da Gênese”.

Enfim, tudo o que Deus faz e que nos rodeia é beleza, é perfeição. E é assim que devemos viver a vida. Aliás, a poesia nos acompanha em todos os instantes, pois ela está presente num fato comum, que muitos não percebem: a música que nos envolve. Quem não cantarolou e ainda cantarola os versos de Carinhoso, de Fascinação, e chegando mais aos nossos tempos, os versos de Tocando em Frente, de Planeta Água e outras belas canções? E letra de uma canção que a toda hora nos vem à lembrança, o que é? É uma poesia musicada.

A poesia está aí, e ela veio para ficar. E podemos assegurar: dia virá em que a poesia fará parte de todas as manifestações artísticas e os poetas serão aplaudidos de pé, nos mais modestos aos mais aristocráticos dos auditórios.

Por isso, Alfred de Musset (Espírito), na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 23 de novembro de 1860, tendo como médium a senhorita Eugénie, disse que “A poesia é o bálsamo que se aplica sobre as chagas. A poesia foi dada ao homem como o maná celeste”. E mais, quase uma profecia: “A Arte pagã é o verme: a Arte cristã, o casulo; a Arte espírita será a borboleta”.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Médium com Jesus



Mediunidade é o dom que nos delega
O Criador para o nosso progresso,
Pois cada psiquismo se encontra imerso
Na torrente mental que tudo agrega.

Mediunidade é base do altruísmo
E do socorro àquele que estorcega;
Da escuridão a consciência despega
Com paciência, longe do imediatismo.

Bendito é quem, pela mediunidade,
Valoriza o bem e a fraternidade,
E se renova, alcançando mais luz,
Por ter tornado o estudo continuado
O caminho seguro e alcandorado
Para ser um bom médium com Jesus.

Sebastião Lasneau

Mensagem psicografada por José Raul Teixeira, em 06/11/2010, durante a Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB, em Brasília, DF.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

À Virgem



Vós sois no mundo a estrela da esperança,
A salvação dos náufragos da vida;
Custódia das almas sofredoras,
Consolação e paz dos desterrados.
Do venturoso aprisco das ovelhas
De Jesus-Cristo, o Filho muito amado!

Fanal radioso aos pobres degredados,
Anjo guiador dos homens desgarrados
Do Evangelho de luz do Filho vosso.
Virgem formosa e pura da bondade,
Providência dos fracos pecadores,
Astro de amor na noite dos abismos,
Clarão que sobre as trevas da cegueira
Expulsa a escuridão das consciências!

Virgem da piedade e da pureza,
Estendei vossos braços tutelares
À Humanidade inteira, que padece,
Espíritos na treva das angústias,
No tenebroso barato das dores,
Mergulhados nas tredas tempestades,
Do mal que lhes ensombra a mente e a vista;
Cegos desventurados, caminhando
Em busca de outras noites mais escuras.

Legião de penitentes voluntários,
Afastados do amor que os esclarece!
Anjo da caridade e da virtude,
Estendei vossas asas luminosas
Sobre tanta miséria e tantos prantos.
Dai fortaleza àqueles que fraquejam,
Apiedai-vos dos frágeis caminhantes,
Iluminai os cérebros descrentes,
Fortalecei a fé dos vacilantes,
Clareais as sendas obscurecidas
Dos que se vão nos pântanos dos vícios!...

Existem almas míseras que choram
Amarradas ao potro das torturas,
E corações farpeados de amarguras...
Enxugai-lhes as lágrimas penosas!
Virgem imaculada de ternura
Abençoai os mansos e os humildes
Que acima de ouropéis enganadores
Põem o amor de Jesus, eterno e puro'.

Dulcificai as mágoas que laceram
Pobres almas aflitas na voragem
Das provações mais rudes e amargosas.
Estendei, Virgem pura, o vosso manto
Constelado de todas as virtudes,
Sobre a nudez de tantos sofrimentos
Que despedaçam almas exiladas
No orbe da expiação que regenera...

Ele será a luz resplandecente
Sobre a miséria dos padecimentos
Afastando amarguras, concedendo
Claridades às estradas pedregosas,
Conforto às almas tristes deste mundo.
Porto de segurança aos viajantes,
Clarão de sol nas trevas mais espessas,
Farol brilhante iluminando os trilhos
De todos os viajores que caminham
Pela mão de Jesus doce e bondosa;
O pão miraculoso, repartido
Entre os esfomeados e os sedentos
De paz, que os acalente e os conforte!

Virgem, Mãe de Jesus, anjo de amor,
Vinde a nós que na luta fraquejamos,
Ajudai-nos a fim de que a vençamos...
Vinde! Dai-nos mais força e mais coragem,
Derramai sobre nós os eflúvios santos
Do vosso amor, que ampara e que redime...
Vinde a nós! Nossas almas vos esperam,
Almas de filhos miseres que sofrem,
Atendei nossas súplicas, Senhora,
Providência da pobre Humanidade!...


Bittencourt Sampaio
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Esse vazio: falta de poesia?



Por Eugênia Pickina


Fixar-se no estado prosaico da vida pode representar vir a perdê-la, pois as necessidades materiais, circunscritas ao domínio da sobrevivência, não têm sintonia com as espirituais ou, mais sutilmente, a satisfação do bem-estar exterior pode depender de um mal-estar íntimo, fazendo brotar um vazio profundo, que reivindica a necessidade de colocar em harmonia o Espírito e o corpo.

Nosso profundo vazio não seria, então, uma falta de poesia?

Sabemos que as atividades racionais da mente são acompanhadas por cargas afetivas, porquanto o ser humano comporta razão e sentimento. Seria adequado, então, não integrar, em benefício do exercício da razão, a dimensão poética da vida?

Para viver bem, podemos, sim, avocar a dialógica razão-sentimento.

Assumir-se como pessoa complexa sugere cuidar da dimensão da prosa, que guia a utilidade dos bens e do trabalho, mas não apenas isso. Uma vida comprometida com a completude, e não com o vazio, pede que incorporemos a dimensão poética, que se alimenta do entusiasmo nos encontros (com nós mesmos, com o outro e com a natureza), que, por si mesma, abre trilhas para as experiências dos sonhos e do êxtase, pois tecida pelas qualidades estéticas do bem e do belo.

O estado poético contém a experiência do inusitado, aceita o mistério do mundo. É suscetível à transparência da regeneração, colhida após a travessia de um sofrimento; é iluminado pelo espanto que nasce diante de uma nova instrução aplicada à mesmice das coisas, modificando-a...

O estado prosaico é necessário à perspectiva da vida material. Contudo, evitar o estado poético desemboca na biografia daquele homem, extremamente rígido, que se mantém fechado numa casa como se fosse velho e decrépito, esquecido dos jardins e das árvores renovadas pelas chuvas de verão.

Talvez a circunscrição ao estado prosaico esteja ainda dirigida pela visão geocêntrica, pois a disposição para a poesia reclama a visão heliocêntrica, que retira o homem do centro, pois, sem dúvida, o centro está onde está o olhar... O estado poético imuniza o ser humano das normoses do dia e das fugazes contrariedades do momento e o leva para a dimensão dos valores eternos, que dizem respeito ao centro de sua vida.

A dimensão poética, como a reencarnação, sugere que somos mais do que pensamos e, por isso, para viver sem o risco da estada longa no vazio, podemos integralizar a prosa e a poesia, capazes de nos levar ao pouso da alma: “aquele lugar onde o mundo interior e o exterior se encontram” (Novalis).

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Amor



Sublime palavra que expressa
A ternura, a paz e a caridade.
O amor trazido por Deus
Com toda a sua bondade.

Nos mundos chamados felizes,
Onde a fraternidade impera,
O amor entre todos os seres
É uma prática singela.

Amor materno, quando existe,
É puro e transparente
E nada a ele resiste.
Sem ele, pobre gente...

Amor filial que maravilha!
Doces criaturas, vindas do além,
Preenchendo os vazios
Dos lares ansiosos por alguém.

A Natureza, à nossa volta,
Nos ensina o que é o amor,
Com sua fauna e flora
Projetadas pelo Criador.

A rosa que se abre e perfuma,
Os pássaros que voam e cantam,
Os lírios do campo, de que nos fala Jesus,
Os animais que a muitos encantam.

O choro e o sorriso de uma criança,
Que nos mostra a maior criação do Pai,
São como um raio de esperança,
Nos apontando um futuro que vai.

O amor ao idoso, ao carente,
Ao pobre, ao deficiente,
O amor ao vizinho, ao parente,
Ao especial, ao indigente.

Devemos lembrar que o amor
Não tem fronteira pra parar,
E onde existe uma dor,
Lá ele deve estar.

Quantos sofrem neste mundo
Sem saber o que é o amor.
Quantos dariam a vida
Por um abraço benfeitor.

Levantemos, meus irmãos,
E nos abracemos com fervor,
Ajudando a mudar o mundo
Com caridade e mais amor


Paulo Mendes Corrêa

Poesia espírita do livro “Mensagens em Poesia”

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Em Êxtase



Aos teus pés, meu Jesus, a vida inteira,
Abrasada de amor eu viveria,
Sorvendo a luz no cálix da harmonia,
Em paz serena, eterna e derradeira!...

Por teu amor, Jesus, inda quisera
Volver ao pó da carne dos mortais,
Para cantar a tema primavera
Do teu amor nas lutas terrenais,

Depois da treva espessa da amargura:
Para exaltar as luzes que me deste
Na cariciosa e doce paz celeste,
Meu tesouro de fúlgida ventura;

Para contar tua bondade imensa
Aos meus irmãos, os homens pecadores,
Mergulhados na noite da descrença,
Nos abismos dos males e das dores;


Auta de Souza.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Fernando Pessoa, Poeta e Médium


O poeta - No século 19, o movimento de caráter filosófico, científico e pedagógico, iniciado no ocidente europeu, promovido pelos enciclopedistas, e que se costuma designar iluminismo, abrangia pesquisas, teatro, romance e poesia. Os adeptos dessa corrente intelectual sofreram sérias perseguições, cujas obras pioneiras e ousadas chocavam-se com o meio social conservador: elas refletiam a inclinação elegante e mundana, característica das sociedades cultas da época. No começo do século 20, com tendência nacionalisticas, o iluminismo despontou em Portugal e teve em Fernando Pessoa sua expressão máxima na poesia.

Fernando Antônio Nogueira de Seabra Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888. Tendo sua família transferido residência para a província de Natal - União Sul Africana, fez seus estudos na High School, em Durban, lá recebendo educação inglesa, marcando-o para o resto da vida. Ainda jovem, Fernando regressou a Portugal, no período em que despontava o modernismo, corrente literária caracterizada pelo refinamento de forma com forte tendência para a renovação literária moderna. Desenvolvida na França e na Itália, se espalhou rapidamente por toda a Europa.

Revelando tendência para as letras e, ainda familiarizado com a literatura inglesa, Fernando aproximou-se de autores portugueses. Aos 25 anos lançou o poema Pauis, publicado na revista literária Orfeu. A obra foi considerada ponto de partida para a instalação definitiva do modernismo em Portugal. Entusiasmada, a geração de Fernando Pessoa foi entrando na vida literária e revelaram talentosos poetas, que se encarregaram de levar o modernismo ao público, em diversas revistas e obras, já com propósitos de doutrinação e crítica.

Assim, a partir de Fernando Pessoa e de sua obra singular, teve início em Portugal uma fase de criação poética que derrubou os padrões românticos. Ele passou a escrever em seu próprio nome e usando heterônimos (nomes imaginários). A despersonalização, real ou fingida, que Fernando manifestava com relação aos seus heterônimos, era de qualquer modo, um elemento definido: Ricardo Reis, Alberto Carrero, Álvaro de Campos, nomes imaginários, que assumem na obra de Fernando Pessoa atitudes diversas, representando, inclusive, estéticas diferentes, com a publicação de poemas que se tornaram o grito de guerra da renovação moderna.

A vida de Fernando Pessoa, que se conservou celibatário, transcorreu no ambiente da pequena burguesia de Lisboa, sendo o poeta obrigado a trabalhar como tradutor correspondente, saltando sempre de um humilde emprego para outro do mesmo nível. De físico discreto, hábitos moderados, embora se excedesse às vezes na bebida, jamais procurou uma correspondência entre a sua extraordinária capacidade intelectual e seu comportamento cotidiano. Após atravessar grave crise de neurastenia, morreu de infecção pulmonar, em 20 de novembro de 1935, aos 47 anos.

Embora durante muitos anos tenha publicado contos, novelas, traduções e ensaios, o genial poeta português só foi devidamente apreciado por poucos. Somente após a sua morte, com a publicação de Obras completas, contendo boa parte de seus escritos, o grande público pôde sentir a extraordinária e complexa riqueza de sua obra: ela constitui, no seu conjunto, a mais profunda e bela criação poética da língua portuguesa da atualidade. Fernando Pessoa passou a ser considerado o maior poeta português do século 20 e um dos maiores nomes da poesia universal.

O médium - Tudo indica que Fernando Pessoa pertencia a uma família de médiuns. Frequentemente, confessava a amigos que fazia parte de um pequeno grupo de sessões práticas de Espiritismo. Nelas, sua mãe apresentava, segundo o poeta, expressivas manifestações mediúnicas. Além da participação de sua família, ele sempre mencionava sua tia Anica e uma senhora de nome Maria, ambas médiuns de escrita automática. Consta que Fernando Pessoa tornou-se médium de escrita automática - psicomecânica e também médium vidente, aos 28 anos.

Sua primeira comunicação mediúnica foi através da escrita de seu falecido tio Cunha. A expressiva mediunidade psicomecânica, ou de escrita automática, como Fernando Pessoa classificava, não interferia na mente do médium, nem havia, tão pouco, alterações de personalidade, mas, segundo o poeta, por vezes ficava inconsciente, magnetizado e caindo para o lado.

Quanto à sua mediunidade de vidência, Fernando Pessoa conseguia ver com absoluta nitidez a sua aura, a irradiação de suas mãos e a presença de Espíritos benfeitores que o assistiam nas horas de necessidade.

Num difícil momento de sua existência, Fernando Pessoa demonstrou ser médium sensitivo: quando do suicídio de seu fiel amigo, o poeta Sá Carneiro. Na ocasião, levado por uma forte depressão, revelou claro sintoma do chamado envolvimento, quando se dá a imantação de um Espírito em uma pessoa. O fato ocorreu logo após a morte de Sá Carneiro. O citado fenômeno é comum e naturalmente tratado nos Centros Espíritas peelos médiuns passistas e doutrinadores. Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec faz minucioso exame e elucida todos os gêneros de manifestações mediúnicas. Kardec discorreu a respeito da ação dos Espíritos sobre a matéria e a importância do comportamento dos médiuns no intercâmbio espiritual.

Os heterônimos - É muito provável que os heterônimos Ricardo Reis, Alberto Carrera e Álvaro Campos, com quem Fernando Pessoa assinava seus poemas, sejam nomes dados por poetas quando encarnados, o que demonstra que a autoria desses versos seja de Espíritos desencarnados e não dele mesmo. Para um espírita esclarecido e conhecedor da Doutrina dos Espíritos, é um caso banal, pois são cientes de que há inúmeros livros de poesia mediúnica já publicados, entre eles: Parnaso de Além Túmulo (FEB), com poemas recebidos por Francisco Cândido Xavier; Antologia dos Imortais (FEB), por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira; Antologia do Mais Além, por Jorge Rizzini (esgotado); Novos Cânticos (Edições Correio Fraterno), por Dolores Bacelar. Deve-se ao heterônimo Álvaro de Campos a manifestação de um elemento bem fora do comum, que se tornou comum à personalidade de Fernando Pessoa - o ocultismo.

Fernando Pessoa nunca assumiu a autoria de sua poesia mediúnica, senão teria posto os nomes de seus verdadeiros autores. Grande poeta e também grande médium, ele fez uso de sua notável capacidade intelectual, dando mais prioridade aos interesses espirituais que aos terrestres. Esta posição com bases nos conhecimentos e esclarecimentos da Doutrina Espírita são renegados até hoje, por milhares de conterrâneos seus em Portugal, por ainda possuírem certas traves em suas mentes.


Maria A. Romano - Jornal O Semeador - julho 2009

sábado, 11 de junho de 2016

Ajuda-te



Se queres conforto e paz
Nunca reproves ninguém.
Se buscas os bens do Céu,
Começa fazendo o bem.

No campo da humanidade
Não colherás a alegria,
Sem plantar com toda gente
A graça da simpatia.

Ajuda-te! Em toda parte,
Bondade é sol que abençoa.
Planta nobre não prospera
Sem bases na terra boa.

Caridade, gentileza,
Auxílio, calma e perdão.
São das preces mais sublimes
Em teu altar de oração.

Recorda que em toda vida,
Conforme a nossa procura,
O Criador nos responde
Nos gestos da criatura.

Cassimiro Cunha

Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Palavra e Vida



Não desprimores, nem firas
O coração que te escuta,
Às vezes, em febre e luta,
Na provação em que jaz;
Pelo recurso da voz
Que instrui, conforta e elucida,
Deus te deu, na luz da vida,
O Dom de fazer a paz.

Se contratempos te afligem
Entre as lembranças que deixas,
Evita sombras e queixas,
Não menosprezes ninguém;
A ofensa que nos procura,
Mesmo de modo impreciso,
Dissolve-se, de improviso,
Na fonte viva do bem.

Se a caridade te guia
Vencendo espinhos e males,
Não te revoltes, nem fales,
Agravando a treva e a dor;
Toda palavra de auxílio,
No bem espontâneo e puro,
É tijolo do futuro
Erguendo o Reino do Amor.

Quando falas e onde falas,
Traças caminhos e normas
Pelas imagens que formas
Nas palavras tais quais são;
Como dizes no que diga,
Constróis jardins e moradas,
Emendas pontes e escadas
De queda ou de elevação.

À frente de quem te humilha,
Não devolvas pedra e lama,
Cala, serve, ampara e ama
Na expressão que se traduz;
Eis que o Céu se manifesta
Na bondade que irradia...
Contempla o sol cada dia:
É bênção falando em luz.


Maria Dolores

Francisco Cândido Xavier

terça-feira, 7 de junho de 2016

Espiritismo e Poesias


A influência do Espiritismo na Poesia e a Poesia no Espiritismo em quase nada se modificam, pois Espiritismo e Poesia são temas, revelações, princípios e grandezas morais de que o homem se utiliza para consolar-se quando sofre.

Com a Poesia a dor é mais suave; com o Espiritismo é mais pura.

A Poesia encanta e o Espiritismo conforta.

A Poesia é o entendimento, às vezes fugindo da razão, e o Espiritismo é a própria razão de ser, atingindo o entendimento.

Aquela é o sonho que se enleva e este é a Verdade que se impõe.

Há, portanto, entre o Espiritismo – Filosofia, Ciência, Doutrina – e a Poesia – Arte, Harmonia, Beleza – a grande afinidade caracterizada até mesmo pela concentração, ponto elementar e fundamental a exigir do Espírito e do Poeta, a inspiração divina para o êxito. Dessa afinidade, dessa identificação é que surgem as influências a todo o instante e em qualquer lugar. Algumas pessoas chegaram à Poesia pelo Espiritismo, enquanto outras alcançaram a graça do Espiritismo pela Poesia.

Vasta é a literatura poetizada que gira em torno do Espiritismo e maior ainda é a Doutrina Espírita que se expande através da Poesia.

Sendo apenas sensível como as flores que recebem o orvalho das madrugadas, e vão, depois, enfeitar e perfumar ambientes, a Poesia, que é sentimento, passa a ter a missão das flores, dentro de suas bases doutrinárias e filosóficas. Somente assim, a Poesia, essa força que arrastou Dante Alighieri ao Paraíso, poderá conduzir a Humanidade rebelada pela incompreensão, através do caminho estreito e espinhoso da Vida terrena, para os braços abertos de Jesus.


Tobias Pinheiro

Do livro Antologia de Poetas Espíritas organizadas por Clóvis Ramos.

domingo, 5 de junho de 2016

Fraternidade



Fraternidade é árvore bendita,
Cujas flores e ramos de esperança
Buscam a luz eterna que se agita,
Rumo ao país ditoso da bonança.

É a fonte cristalina em que descansa
A alma humana fraca, errante e aflita;
É a luminosa bem-aventurança
Da mensagem de Deus, pura e infinita!…

Vós que chorais ao coro das procelas,
Vinde, irmãos! Desdobrai as vossas velas!…
Não vos sufoque o horror da tempestade

Fraternidade é o derradeiro porto,
A terra da união e do conforto,
Que habitaremos na Imortalidade.


João de Deus

Francisco Cândido Xavier, do livro Parnaso de Além Túmulo.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Luz Sublime



Guarda contigo a fé por luz sublime,
constantemente acesa trilha afora,
que nada te detenha ou desanime,
no esforço de servir que te aprimora.

O sofrimento é benção que redime,
Valoroso cinzel ferindo embora,
E fardo que sustentas, se te oprime,
É o generoso apoio que te escora.

Recorda o Mestre Amado e continua
Plantando amor na gleba triste e nua,
Dos corações crivados de amargores...

E encontrarás ao termo dos teus passos
O Cristo que, a sorrir, te estende os braços,
Do seu Reino de excelsos resplendores!


Auta de Souza

Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Especial do Mês


Conceituar poesia é uma tarefa árdua até mesmo para os mais hábeis artistas e poetas que vivem rodeados e respiram a sua atmosfera.

Ela reside em todas as formas de manifestações artísticas e invade o nosso universo sensorial tanto nas cores e traços de uma tela, na pintura, como nos textos de uma obra literária; nas notas de uma composição musical ou mesmo no desenrolar de um enredo de uma peça teatral ou de cinema.

A comunicação poética pode ou não se expressar através de palavras, sendo geralmente permeada por conteúdos psíquicos, mas sempre envolta de sensorialidade ou sentimentalidade.

Podemos resumir poesia como a mais pura expressão da alma.

Na doutrina espírita ela se fez presente em nosso país pela primeira vez no ano de 1869, quando Julio César Leal, então presidente da Federação Espírita Brasileira publicou o livro “Espiritismo, considerações poéticas seguidas de uma invocação”, primeiro livro de um poeta com temática espírita. Vale ressaltar que o mesmo não se trata de uma obra de poesia mediúnica, mas simplesmente um livro de um poeta que compunha com base nos fundamentos espíritas doutrinários.

Contudo o grande marco da poesia no espiritismo foi o ano de 1932 com a publicação de Parnaso de Além Túmulo, primeiro livro com psicografias de poesias de autoria do médium Francisco Cândido Xavier, ditado por vários poetas famosos desencarnados.

No mês de junho, o Manancial de Luz faz uma homenagem à poesia no espiritismo com o especial “Versos Espíritas”, trazendo postagens de poesias espíritas e abordagens sobre o tema.
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