quarta-feira, 8 de março de 2017

Magnetismo e Espiritismo, Ciências Irmãs


Magnetismo e Espiritismo: quem os separou?


Por ter crescido num berço espírita e já contando com muitos anos lidando com o Magnetismo fico pensando o porquê de se fazer tantas reservas ao casamento dessas duas ciências!

Como ciências, elas são consorciadas num enlace indissolúvel, sob pena de, em se separando, chegarem ao imobilismo, conforme preconizou Allan Kardec em janeiro de 1869, às vésperas de sua desencarnação (Revista Espírita, janeiro de 1869, página 7, onde se lê: “O magnetismo e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela outra, e das quais aquela das duas que não quer se imobilizar, não pode chegar a seu complemento sem se apoiar sobre a sua congênere; isoladas uma da outra, elas se detêm num impasse; elas são reciprocamente como a física e a química, a anatomia e a fisiologia”. Grifo original). Fica bastante visível a opinião do Codificador, a qual nem sempre tem recebido o respeito devido.

Uma das “lutas” de Allan Kardec foi a de convencer os magnetizadores de sua época acerca da influência dos Espíritos nos fenômenos do magnetismo. A grande maioria dos magnetizadores de então não queria admitir a possibilidade da interveniência de “nenhuma potência estranha”, mesmo quando não tinham, em seus saberes, todos os móveis e motores que explicassem a ação de tão sutil agente, chamado de fluido, potencializado por outro ainda mais sutil: a vontade.

Vermífugos, vomitórios, sangrias e perdas de vitalidade provocadas eram considerados, ainda, como os principais elementos de cura da medicina da ocasião e as terapias naturais já começavam a se fazerem reconhecidas, se não pelas curas totais, pelo menos por apresentarem menores índices de óbitos. Nesse universo, o magnetismo de Mesmer já havia conquistado terreno amplo, mesmo com o Magnetismo ainda tendo que enfrentar parte da sociedade acadêmica e dela sofrer as mais rigorosas perseguições. Todavia, no que se percebe da leitura dos grandes da época, muitos médicos já haviam incorporado à sua prática clínica tanto o Magnetismo como o Sonambulismo, sempre referindo sucesso a tal mister.

E pelo que Allan Kardec pronunciou: “O magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e os rápidos progressos desta última doutrina são incontestavelmente devidos à vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas há apenas um passo; sua conexão é tal que, por assim dizer, é impossível falar de um sem falar do outro. Se tivermos que ficar fora da Ciência do magnetismo, nosso quadro ficará incompleto e poderemos ser comparados a um professor de Física que se abstivesse de falar da luz” (In Revista Espírita, março 1858, artigo ‘O magnetismo e o Espiritismo’) fica notório que o mestre de Lion abençoava esse enlace e ainda nos advertia do preço que seria ficarmos de fora da Ciência do Magnetismo. E para que não ficassem dúvidas de que ele conhecia e respeitava os grandes mestres do Magnetismo, ele encerrou o referido artigo com este honestíssimo parágrafo: “Devíamos, aos nossos leitores, essa profissão de fé, que terminamos rendendo uma justa homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os dissabores, estão corajosamente devotados à defesa de uma causa toda humanitária. Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre a sua conta pessoal, opinião que é sempre, mais ou menos, o reflexo de paixões vivas, a posteridade lhes fará justiça; colocará o nome do barão Du Potet, diretor do Jornal do Magnetismo, do senhor Millet, diretor da União Magnética, ao lado dos seus ilustres predecessores, o marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus esforços perseverantes, o Magnetismo, tornado popular, colocou um pé na ciência oficial, onde dele já se fala, em voz baixa. Essa palavra passou para a linguagem usual; ela não espanta mais, e quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais ao nariz” (grifos originais).

Nosso codificador, portanto, afirma e reafirma a união do Magnetismo com o Espiritismo. Sobrando, portanto, a pergunta título deste artigo: “quem os separou? ”. O mundo, assim como eu, espera uma resposta que explique o que nos levou a esse imobilismo em que nos metemos.

A Bênção do Magnetismo


Embora nem todo mundo perceba isso, uma das maiores bênçãos que as criaturas têm, recebem, absorvem e até distribuem é o magnetismo.

Mesmer (1734-1815) chamou a “energia” vital de Magnetismo Animal. Muitos preferem chamá-lo de magnetismo espiritual, psíquico, humano, sutil… Ao que me parece, o nome não importa muito, desde que saibamos nos beneficiar dessa fonte inesgotável que bem poderia ser simplesmente chamada de Vida, vida orgânica, posto que esta não existe sem a presença daquele.

Inapreensível para muitos e de abordagem pouco confortável para quem ainda se orienta pelo mecanicismo cartesiano como única base viável de provas, as evidências dessa potência jamais podem ser negadas, ainda mesmo quando vigoravam perseguições cruéis e insanas sobre seus estudos e usos.

Força ativa e interativa, nela nos movemos e por ela nos reconhecemos. Enigmas, mistérios e lógicas desconhecidas, enfim, quase tudo tem nessa ciência uma base segura para entendimento sensato e coerente.

Contemporaneamente, com uma maior popularização dos conhecimentos quânticos, aquilo que antes só poderia fazer parte do universo de lunáticos ou do cérebro de privilegiados incompreendidos, o magnetismo vem ampliando horizontes e retomando o espaço que jamais deveria ter perdido.

Na cultura geral sempre foi tomado em apenas uma de suas feições: a cura sutil. Muitas religiões, seitas, credos e filosofias denominam seu emprego como mahikari, jorey, reiki, healing, imposições de mãos…

E foi nesse campo que Allan Kardec mergulhou, de forma segura e clara, e vinculou o Espiritismo ao Magnetismo de uma maneira muito mais ampla e rica do que qualquer outra doutrina. E assim o fez porque seria praticamente impossível se compreender, com segurança e base, a mediunidade em geral, mas especialmente a de efeitos físicos, bem como toda e qualquer terapia com os chamados passes.

Tendo ele sabido da força que desempenha o magnetismo, colocando-o na condição de verdadeira ciência, no seu comentário à questão 555 do Livro dos Espíritos escreveu:

“O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice”. (grifei)

Com o Espiritismo explicando o incompreensível e o Magnetismo evidenciando toda sua força nas relações e interações energéticas dos seres, muito apropriada fica a sugestão do Mestre lionês. Não há, pois, como não se mergulhar nessa ciência.

Jacob Melo

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