segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Psicografia e Ciência


Psicografia, o que ocorre no cérebro?



Entrevista por Victor Rebelo

Em entrevista exclusiva, *Dr. Júlio Peres fala sobre sua mais recente pesquisa científica, que demonstra que áreas ligadas à criatividade e planejamento são muito pouco ativadas durante a atividade mediúnica.

A seguir, acompanhe a entrevista exclusiva sobre seu mais recente estudo científico, envolvendo a mediunidade.

Doutor, qual foi o objetivo da pesquisa?

Dr. Júlio Peres - Verificar as possíveis mudanças no fluxo sanguíneo cerebral durante a psicografia, em comparação com a escrita de um texto original (sem transe mediúnico) sobre um tema similar ao que o médium tem o hábito de psicografar.

Quais foram as instituições e os grupos que desenvolveram essa pesquisa?

Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria-IPq-do HCFMUSP, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Pensilvânia e Universidade Thomas Jefferson estiveram envolvidos no estudo.

Que método foi utilizado? Vocês usaram que tipo de equipamento?

Utilizamos o método de neuroimagem funcional SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography) ou Tomografia Computadorizada de Emissão de Fóton Único.

Em entrevista à rádio CBN, o senhor afirmou que foi constatado que as áreas do cérebro responsáveis pela criatividade tiveram menor atividade durante a psicografia, no entanto, a complexidade dos textos psicografados era superior à dos escritos em estado de vigília. O senhor poderia falar mais sobre isso, para nossos leitores, por favor?

As amostras de escrita produzidas foram analisadas e verificou-se que os textos psicografados foram mais complexos que os conteúdos produzidos no estado normal de vigília. Os conteúdos gerados durante as psicografias envolveram princípios éticos/espirituais e a importância da união entre ciência e espiritualidade.

Em particular, os médiuns mais experientes apresentaram escores significativamente mais elevados de complexidade, o que normalmente exigiria mais atividade nos lobos frontais e temporais, e este não foi o caso. As áreas relacionadas ao planejamento mostraram menor atividade. Em outras palavras, durante a psicografia, os cérebros ativaram menos as áreas relacionadas ao planejamento e à criatividade, embora tenham sido produzidos textos mais complexos do que aqueles escritos sem "interferência espiritual".

A despeito deste achado ter sido inesperado para corrente central da Ciência, o mesmo é compatível com a hipótese que os médiuns afirmam: a de que o texto escrito por eles pode ser de autoria do espírito comunicante, portanto, de outra inteligência.

Quem fez e como foi feita a comparação? Quais os critérios adotados?

Foi avaliada a complexidade da estrutura narrativa das psicografias em relação à escrita, controle no que diz respeito, por exemplo, à utilização de sujeito, verbo, predicado, capacidade de produção de texto legível e compreensível.

Ainda na entrevista à CBN, o senhor afirmou que o texto que eles escreveram era semelhante ao tipo de texto que eles estão habituados a psicografar... isso seria um "pareamento de tarefas". Explique melhor, por favor.

Sim. A condição alvo e a condição controle foram pareadas de maneira que a subtração entre as duas condições resultou no diferencial mediunidade, objeto de nosso estudo.

Cientificamente falando, dá para se chegar a que conclusão?

Várias hipóteses foram consideradas. Uma delas é que como a atividade do lobo frontal diminui, as áreas do cérebro relacionadas à criatividade estão mais desinibidas (o que ocorre com o uso de álcool ou de drogas). De uma maneira semelhante, o desempenho na meditação e na improvisação musical estão associados com níveis mais baixos de atividade cerebral, que pode favorecer o relaxamento e a criatividade respectivamente. Porém, é importante notar que o consumo de álcool/drogas, a meditação e a improvisação musical são estados bastante peculiares e distintos da psicografia, portanto, não comparáveis diretamente com a expressão literária mediúnica. Os médiuns referem que "a autoria dos textos psicografados foi dos espíritos comunicantes e não pode ser atribuída a seus próprios cérebros", sendo assim esta hipótese plausível.

O presente estudo é a primeira investigação mundial sobre mediunidade com metodologia de neuroimagem. Devemos ter tranquilidade numa fase embrionária de pesquisa neste campo. Embora o motivo exato dos presentes resultados não seja conclusivo neste momento, esta primeira avaliação neurocientífica fornece dados interessantes sobre estados dissociativos mediúnicos alinhados à compreensão da mente e sua relação com o cérebro, e estes achados merecem futuras investigações, tanto em termos de replicação quanto de hipóteses explicativas.

Para os espíritas, esse resultado seria uma evidência da interferência de um espírito...

Não posso tirar conclusões pelos espíritas ou qualquer grupo, cético ou religioso. Meu objetivo como investigador é conduzir estudos com rigor científico, apresentar os resultados e possíveis discussões relacionadas aos achados para que a compreensão sobre o tema possa realmente avançar sem preconceitos.

Como foi feita a escolha dos médiuns? Quantos participaram?

Entre mais de 170 entrevistas, foram selecionados dez médiuns brasileiros com 15 a 47 anos de experiência mediúnica e aproximadamente 18 psicografias por mês, destros e com plena saúde mental.

Este estudo específico que vocês realizaram é o primeiro. Existem outros estudos nessa área que possam colaborar para que a Ciência chegue a uma conclusão? Quais?

Novos estudos estão em nossa agenda. O próximo envolverá neuroimagem de médiuns pictógrafos. Estamos selecionando 20 voluntários médiuns pictógrafos (médiuns pintores) para um novo estudo com neuroimagem em meados de 2013. Solicito que os médiuns com consistente experiência nesta área entrem em contato comigo pelo e-mail contato@julioperes.com.br (Assunto: Estudo Mediunidade Pictográfica) para que eu possa entrevistá-los.

Esse tipo de estudo pode trazer quais contribuições à psiquiatria e psicologia?

Os "ingredientes dinâmicos" que constituem a personalidade-e fazem de uma pessoa um ser único -não foram até agora encontrados pela Ciência. A natureza humana é um relevante e essencial objeto de estudo para todos os profissionais que trabalham no campo da cura da dor psíquica em sua miríade de expressões.

A compreensão da etiologia do sofrimento humano será, esperançosamente em um futuro próximo, alinhada a uma terapia eficaz. Considero que mais pesquisas devem abordar critérios de distinção entre as expressões dissociativas saudáveis e patológicas no âmbito da mediunidade.

O estudo "Neuroimagem durante o estado de transe: uma contribuição ao estudo da dissociação" foi publicado recentemente pela PLOS ONE, prestigioso periódico científico de acesso público gratuito. Procure na seção de artigos do site: www.plosone.org.

Variedade de médiuns escreventes (psicógrafos)

"191. 1*- Segundo o modo de execução:
Médiuns escreventes ou psicógrafos: os que têm a faculdade de escrever por si mesmos sob a influência dos Espíritos.
Médiuns escreventes mecânicos: aqueles cuja mão recebe um impulso involuntário e que nenhuma consciência têm do que escrevem. Muito raros. (N* 179).
Médiuns semimecânicos: aqueles cuja mão se move involuntariamente, mas que têm, instantaneamente, consciência das palavras ou das frases, à medida que escrevem.
São os mais comuns. (N*181.)
Médiuns intuitivos: aqueles com quem os Espíritos se comunicam pelo pensamento e cuja mão é conduzida voluntariamente.
Diferem dos médiuns inspirados em que estes últimos não precisam escrever, ao passo que o médium intuitivo escreve o pensamento que lhe é sugerido instantaneamente e provocado. (N*180.)
São muito comuns, mas também muito sujeitos a erro, por não poderem, muitas vezes, discernir o que provém dos Espíritos do que deles próprios emana.[...]"
Trecho do cap.XVI de O Livro dos Médiuns. Allan Kardec

*Doutor Júlio Peres é psicólogo clínico e Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Fez Pós-doutorado no Center for Spirituality and the Mind, University of Pennsylvania e na Radiologia Clínica-Diagnóstico de Imagem pela UNIFESP.

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