quinta-feira, 8 de outubro de 2009


AMÉLIE GABRIELLE BOUDET – A ESPOSA DE KARDEC

Estamos em Paris no ano de 1831. O Professor Denizard Hippolyte Léon Rivail, que mais a frente seria conhecido mundialmente com o pseudônimo de Allan Kardec, dedica-se, inteiramente, aos trabalhos da Educação, graças á sua excelente formação pedagógica junto ao emérito educador suíço João Henrique Pestalozzi.

Culto pensador e escritor, edita obras primorosas nessa área, a ponto de muitas delas serem adotadas em escolas da França. Tornara-se membro de várias sociedades sábias, entre outras, a Academia Real de Arrás, que lhe premia pela notável memória sobre a seguinte questão: “Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?” Desde l826 fundara e dirigia, o Instituto de Ensino Técnico, á Rua de Sèvres, nº 35, onde adotara os métodos de Pestalozzi. Ali os alunos colhiam, além das disciplinas normais, as matérias de Física e Química que o professor introduzira no programa.

Rivail, em sintonia com a doutrina pestaloziana, era mais um segundo pai que um mestre, preparando-os para a realidade do mundo social. Chamava seus educandos de “meus amigos”. Foi nessa mesma época que se deu um episódio feliz em sua vida, pois veio a conhecer aquela que seria sua futura esposa, Amélie Gabrielle Boudet.

A ela se referem seus biógrafos: “No mundo da literatura e do professorado que freqüentava em Paris, Rivail encontrou a Senhorita Amélie Boudet, professora com diploma de primeira classe.” Revela-nos o Dr. Canuto de Abreu, cujas pesquisas espíritas em Paris o levaram a uma série de documentos, que a senhorinha Amélie fora professora de Letras e Belas-Artes, trazendo de encarnações passadas a tendência inata, por assim dizer, para a poesia e o desenho.

Culta e inteligente, publicou três obras: ”Contos Primaveris’- 1825; “Noções de Desenho”- 1826; “O Essencial em Belas-Artes”- 1828.

De estatura baixa, mas bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando penetração de espírito, Amélie Boudet, aliando a esses predicados um sorriso terno e bondoso, logo se fez notar pelo Prof. Rivail, onde reconheceu um homem superior.

Em 6 de fevereiro de 1832, firmava-se o contrato de casamento. Ela tinha nove anos a mais do que ele, pois nascera em Thiais, a 23 de novembro de 1795, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido. Jamais essa diferença foi entrave á felicidade de ambos.

Amélie Boudet deu todo apoio a Rivail no Instituto de Ensino. Sua colaboração se estenderia pelos anos afora, secundando o marido por todos os meios, mormente na direção física e moral dos alunos mais jovens necessitados de cuidados especiais.

A partir de 1855, ano em que o Prof. Rivail passa a investigar os fenômenos que o levariam á codificação do Espiritismo, no cumprimento da parte mais importante da sua missão, que, aliás, recebera do próprio Jesus, passa a sofrer perseguições tenazes dos inimigos da Verdade. Nessa fase é que assume o nome de Allan Kardec, e começa a percorrer o caminho que, naturalmente, todo missionário do Bem aqui na Terra percorre, com todas as conseqüências decorrentes desse processo.

Mais do que nunca Amélie Boudet, passa heroicamente a partilhar, com admirável resignação, as desilusões e infortúnios do esposo.

Intrigas, traições, insultos, ingratidões e calúnias movidas pela ignorância e pelas trevas, cercaram o ilustre Codificador, que se mantinha fiel a Jesus, mas, em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou em sua nobre esposa afeto e amparo.

Com o desencarne de Kardec em 1869, Amélie, convencida da verdade dos ensinos espíritas, buscou garantir a vitalidade do Espiritismo no futuro, aplicando junto com os continuadores do trabalho de Kardec, como Gabriel Dellane, Léon Dennis, Ernesto Bozzano, Camile Flammarion, o livreiro Maurício Lachaitre e outros, o tempo que ainda lhe restava na consolidação da doutrina e sua propagação, na França e em todo o mundo, demonstrando espírito de trabalho fora do comum.

Muito fez esta extraordinária mulher em prol do Espiritismo, até que em 21 de janeiro de l883, com 87 anos de idade, seu espírito desatou-se dos laços que o prendiam á matéria, sendo simples o seu enterro.

Seus despojos foram inumados junto ao dólmen de Kardec no cemitério de Pére-Lachaise, em Paris.

Por Ciro Francisco Amantéa

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